quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CIÊNCIA E FÉ  

Hoje o prefixo trans, além, em português, é usado frequentemente como prefixo para indicar a existência de uma dimensão da realidade situada fora e além do habitual horizonte cognitivo. Palavras como transcendente, transpessoal, transdisciplinaridade fazem parte do vocabulário de estudiosos do conhecimento humano. As fronteiras do saber estão se alargando num impressionante acelerato. É impossível acompanhar o seu ritmo de crescimento e a velocidade com que novas teorias passam a tomar o lugar de antigas. Até mesmo o conceito de antigo não é mais o mesmo de cem anos atrás. O progresso científico está adquirindo a força e o poder de destruição de um ciclone. Por onde passa derruba crenças e varre para longe teorias e teses tidas, até então, como “eternas” e “infalíveis”.

Passou o tempo em que a palavra progresso tinha um significado que hoje não tem mais. Responsáveis pelas descobertas científicas mais espetaculares não são mais laboratórios, mas indivíduos geniais como Einstein, Freud, Jung, entre outros. Até mesmo o modo de fazer ciência já não é mais o mesmo de cem anos atrás. Hoje, um bom cientista não trata mais como objetiva e imparcial sua relação com o que observa e analisa. Já descobriu que, para ter acesso à verdade, não basta analisar o que é dado observar. Átomos, células não são partes de um todo, apenas. São este Todo. O átomo é visto hoje como miniatura do Universo todo.

O átomo já não é mais visto como um composto de elementos, mas como trama ou teia de eventos. Tudo no Cosmos deve ser visto como teia de relações se quisermos ter uma ideia mais exata da sua verdadeira natureza. Nada há nele que tenha um lugar fixo. O equilíbrio alcançado por um conjunto de unidades é sempre precário e instável, mais próximo do Caos do que do tipo de ordem que cem anos atrás ainda era considerado como tipo padrão: a ordem estática que, traduzida do plano físico para o social, modelou a estrutura básica da sociedade bem conservada ou conservadora.

A Ordem Perfeita, que reina nos planos mais sutis do mundo material, não é produzida por “coisas” paradas, que não saem do lugar, nem mudam de forma. Pelo contrário. Sábios da antiga Índia compararam o que acontece no Universo a uma dança, a Dança de Shiva. A dança é um espetáculo realizado por pessoas que se movimentam ritmicamente. Para compreender o que cada dançarino está fazendo é preciso ter conhecimento do tipo de espetáculo que está sendo apresentado. É o espetáculo que determina os movimentos de cada participante. A liberdade de cada indivíduo é determinada pelo papel que lhe cabe desempenhar. Por detrás da coreografia toda, existem um plano e um objetivo.

Um Balé, por exemplo, obedece a um plano meticulosamente elaborado. Tem como finalidade proporcionar aos assistentes o prazer estético que todo belo espetáculo desperta. Que espécie de espetáculo verdadeiramente emocionante poderia oferecer um Universo feito de objetos fixos e sem vida? Que prazer pode haver no relacionamento com uma pessoa cujas ideias e sentimentos são sempre os mesmos?

Elétrons são subpartículas atômicas que têm o hábito de se relacionar constantemente entre si. “Aprendem” e comunicam a outros o fruto das suas experiências. Um elétron tem vida. E a soma da vida de bilhões deles constitui a vida de cada ser vivo, também a nossa.

Um elétron se encontra no ponto de encontro do espírito com a matéria. É mais espírito do que matéria. É o que nos afirma Jean E. Charon, repetindo o que antes dele já afirmara Einstein ao declarar que a “essência da matéria é espiritual”.


In: “Perfil de uma Igreja Nova” – Manuscrito de Pe. José Marcos Bach, sj

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