terça-feira, 22 de abril de 2014

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

Os que viram Jesus expirar na cruz provavelmente saíram do Gólgota convencidos de que tinham assistido ao fim de um belo sonho. Devem ter sido bem poucos os discípulos de Jesus que ainda depositavam alguma fé em suas promessas. Os mais decepcionados, porém, não foram os discípulos, mas os inimigos de Jesus. Tiveram pouco tempo para se regozijar, pois apenas algumas horas depois do que parecia o desfecho final de uma empreitada triunfal recebeu dos guardas a notícia de que o túmulo se encontrava vazio.
           
Se os Evangelhos se restringissem ao túmulo vazio como provas de que Jesus não permanecia mais entre os mortos, a afirmação dos guardas poderia ser aceita, mas se ele apareceu vivo entre os vivos, a questão se coloca diferente. “Por que buscais entre os mortos ao que está vivo?” (Lc 24,5). “Ele não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mt 22,32). Jesus associou a sua morte, voluntariamente assumida, à promessa solenemente repetida de ressuscitar (Lc 9,22). Jesus não só previu sua morte, mas até chegou a lhe fixar o tempo de duração: será morto, mas “ao terceiro dia ressuscitará”.

A Ressurreição de Jesus.

1) Após a sua morte Jesus ainda ficou com os seus durante 40 dias. A intenção era clara: além de prepará-los para viverem sem a sua presença física, as aparições tinham a finalidade de eliminar de sua fé qualquer dúvida referente à sua ressurreição dentre os mortos. “Irei adiante e preceder-vos-ei na Galileia” (Mc 14,28). Foi na Galileia dos gentios que Jesus iniciou sua vida pública e é lá que queria encerrá-la. Longe de Jerusalém e de tudo o que a Cidade Santa simbolizava no imaginário popular. No meio da natureza, à beira de um lago com o Monte Hermon, a montanha mais alta da região à vista, é ali que Jesus se sentia verdadeiramente em casa.

2) O apóstolo Paulo atribui à Ressurreição de Jesus um caráter primicial. “Ressurgindo dos mortos Jesus tornou-se o primogênito de uma nova humanidade. Ele, Cristo, é o primogênito dentre os mortos” (Cl 1,18).
           
A Ressurreição de Cristo é uma das verdades angulares da fé cristã. O apóstolo Paulo não se cansa de associar à ressurreição de Cristo a ressurreição de todos aqueles que nele depositaram a sua fé. O apóstolo Paulo chega a afirmar que se Cristo não ressurgiu dos mortos, também nós não vamos ressuscitar (I Cor 19,16). Chega a inverter o raciocínio ao afirmar: “Se os mortos não vão ressurgir, então Cristo também não ressuscitou” (I Cor 15,16).
           
Para o apóstolo Paulo Cristo seria o maior impostor que a história conheceu “se não tivesse ressuscitado dos mortos, pois toda a nossa fé seria vã no caso de ele não ter ressuscitado” (I Cor 15,17). Tão vã como a nossa fé seria a ressurreição de Cristo, caso o universo todo não tivesse ressuscitado com ele. Foi Santo Ambrósio que carimbou a expressão segundo a qual o universo inteiro deixou de ser o mesmo depois que Cristo ressuscitou. “In eo surrexit mundus”, diz Ambrósio.
           
A dimensão cósmica da ressurreição de Jesus, envolvendo por igual místicos e cientistas, poetas e historiadores, antropólogos e teólogos é tão fundamental, que qualquer concepção antropológica bairrista deve ser descartada, a limine, como defeituosa e viciada. Não é somente o teólogo que precisa tratar o cientista com mais respeito. É também o cientista que precisa de mais humildade. O “Cogito, ergo sum” de René Descartes, só expressa a metade de uma verdade maior. O místico se põe em combate com esta verdade maior através de oração. Pois é além das fronteiras determinadas pelo pensamento que o Logos Divino se encontra à espera da consciência do homem.

Padre Marcos Bach

Nenhum comentário:

Postar um comentário