quinta-feira, 3 de julho de 2014

CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA

A autêntica democracia pressupõe da parte do povo um nível de consciência política que povo nenhum do planeta possui. O povão gosta de homens fortes e quer ser governado por um deles, de preferência ao governante sábio. Não morre de amores pela liberdade. Teme-a e a troca com facilidade por um bom prato de macarrão. Não ama a liberdade porque sente que ela o iria comprometer com responsabilidades que não quer assumir. Preferiria sentar à mesa e comer em restaurante bem barato.

Quem não sabe que o povão é paciente? Sabe esperar! Sempre está à espera de algum milagre. À espera de um caudilho ou de um guru milagreiro. Não está interessado em fazer. Quer é receber. Pertence ao tipo de mendigo que se julga no direito de entrar em greve quando a esmola desaparece ou começa a minguar. O povão se comporta diante de uma repartição pública como o fazia antigamente uma turma de mendigos diante das portas de um convento. O sopão, a distribuição gratuita de “cestas”: tudo isso é esmola e só serve para rebaixar ainda mais o já baixo nível de consciência política do nosso povo.
           
Os políticos desempenham a função de esmoleiros. Sua atuação política se resume em distribuir “favores” que no fundo nada mais são do que “esmolas”. De si e do próprio bolso não tiram nada. O que distribuem é dinheiro público, dinheiro que não lhes pertence. É raro ouvir falar de alguém que deixou a política, ficar mais pobre do que ao entrar.
           
Entre romanos e gregos a atividade política era gratuita. Só quem possuía bens e não precisava da atividade política como fonte de renda podia candidatar-se a Senador Romano.
           
Numa democracia o povo é sujeito. É cidadão, é construtor da sua cidade, guardião e defensor das suas instituições e não apenas eleitor, sem outra escolha senão a de votar.
           
Não existem em nosso mundo atual democracias, sistemas de governo que mereçam este nome. Existe o Ideal Democrático, cantado em prosa e verso, mas apenas como sonho e como utopia. Por ora ainda vigora o ditado romano: “Populus vult decipi, ergo decipiatur”. O povo quer ser iludido e enganado. Não lhe agrada ter que ouvir a verdade e evita encontrar-se com a realidade. Vota em quem mais promete.
           
De momento a prática da democracia só é possível em pequenas comunidades, constituídas de pessoas de alto nível de consciência social e moral. Não é preciso que esta comunidade seja religiosa. Pode ser uma ONG ou coisa parecida. Nela predomina a unanimidade em questões tidas por todos os seus membros como fundamentais e essenciais, mas em questões que não afetam o essencial haverá amplo espaço para a diversidade de opiniões.
           
Um organismo comunitário exige dos seus componentes um alto grau de paixão, de “tesão política”. Uma democracia não se constrói empunhando “planilhas” e baseando-se em “ibopes” ou dados estatísticos. Uma democracia se faz com amor, muito amor e muito respeito pela liberdade de cada membro. O ideal político de uma comunidade é criar espaço, o mais amplo que for possível, para pessoas que queiram viver a sua vida da maneira mais livre que lhes for possível.
           
Já que não é possível transformar megalópoles como São Paulo em paraísos democráticos, sempre resta a possibilidade de transformar o próprio lar, o condomínio ou o bairro residencial em algo menos parecido com uma casa de detenção ou um campo de concentração. Convém não perder de vista que poucas cidades foram projetadas e construídas de cima para baixo, como Brasília. A maioria delas nasceu como aldeia e cresceu de baixo para cima. Seria uma tremenda catástrofe política se o Brasil de amanhã fosse no concerto das nações o que a cidade de Brasília é hoje. Um “quisto”, um tumor canceroso e cancerígeno da pior espécie.

Padre Marcos Bach

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