segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A LEVEZA DO AMOR

Não há dúvida: o Pai do Céu nos ama! Mas não alardeia este fato aos quatro ventos! Obriga-nos a procurá-lo e a descobri-lo! Como todo bom cavalheiro, Deus é discreto: seu Amor não pesa, não fere e não machuca ninguém. É leve como a luz!
           
É esta leveza que o devasso profana! Jamais deveríamos aceitar como sendo cristão um sistema moral que acrescenta mais peso ao que já é pesado por natureza.
           
Vida é leveza! É por isso que as plantas crescem para cima! Não fosse a sua leveza, astro algum conseguiria flutuar no espaço com a elegância que lhe é própria.
           
Sabemos (ou poderíamos saber) que o amor torna leve o que sem ele seria simplesmente insuportável! O amor pode tornar leve e feliz até a vida de um escravo!

Se em nada o diminuiu, o que Cristo veio acrescentar ao amor humano? Primeiro transformou-o em moeda corrente, igualando em dignidade o amor do pobre ao do rico, o amor da faxineira ao do sacerdote. Mais do que supor e exigir igualdade, o amor a cria.
           
Lá onde existem diferenças de ordem hierárquica, o amor ainda não teve tempo ou oportunidade de manifestar-se em toda a sua pujante plenitude!
           
Jesus se parecia tanto com os seus discípulos que Judas teve que dar um sinal aos soldados que o vinham prender.
           
O pedaço de pão dado a um faminto tem o mesmo valor que o pão eucarístico, pois em ambos o que determina o valor aos olhos de Deus é o amor com que é praticado e não o gesto em si. “Se tiveres alguma diferença com teu irmão, deixa o sacrifício e reconcilia-te primeiro com ele” (Mt 5,24).
           
Jesus popularizou o mandamento do amor. Há, no entanto, quem acha que Ele foi longe demais e que acabou vulgarizando o amor, despojando-o de certa aura de sacralidade ligada a formas de vida consagrada ao culto divino.
           
No pensamento de Jesus todo amor dignifica, eleva e enobrece! Não são as pessoas que degradam o amor ou o tornam nobre. O amor possui o poder de enaltecer aos olhos de Deus tanto aquele que ama quanto aquele que é amado! O desejo de ser amado faz parte de uma boa saúde psico-moral e mental! A necessidade de amar é a mesma que a de respirar!
           
O que Cristo veio trazer-nos é um amor novo, uma faculdade qualitativamente superior de amar. Fez o que o pomicultor faz quando enxerta uma das suas macieiras silvestres. Pode-se comparar a contribuição de Cristo à economia da evolução humana com a atividade de um perito em horticultura. Jesus chama a Deus de agricultor (Jo 15,1).
           
O vigor e a vitalidade de um bom enxerto depende de dois fatores básicos:
1) O chamado “cavalo” ou “hospedeiro” será tanto mais apropriado à tarefa quanto mais selvagem e rústico for. Pode ter espinhos e não produzir mais que frutos inaproveitáveis, mas deve ser resistente a pestes e pragas. Mais que tudo deve ser perito na arte de deitar raízes, raízes abundantes, fortes e profundas! Deve ser especialista na arte de tirar do solo e da atmosfera o máximo de nutrientes aproveitáveis!
           
Sua contribuição para a produção de belos frutos é indireta, mas absolutamente indispensável. É ele que aproveita o adubo colocado em seu raizame. É ele, o humilde “cavalo”, que transforma umidade em seiva e a canaliza para o alto da planta. Os frutos, quem os produz são os ramos, mas o mérito principal por tudo não lhes pertence!
           
2) O “hóspede” que veio morar na mesma planta juntamente com o “hospedeiro” formando com ele um todo indissolúvel, é de estirpe mais nobre! É representado sob a forma de uma “gema” ou de um ramo extraído de um galho ou ramo produtivo de uma planta adulta. Numa planta bem enxertada só a gema tem o direito de brotar e de se expandir. É extremamente importante impedir o aparecimento de “ladrões”, de rebentos parasitários, tão vorazes quanto uma célula cancerosa! O erro do tumor cancerígeno e maligno não reside no fato de andar sempre com fome, mas no fato de se esquecer de que pertence a um Todo Maior e que outros conjuntos orgânicos também andam com fome.
           
O amor próprio passa a se tornar cancerígeno e maligno a partir do momento em que nos esquecemos de reparti-lo! Quem casa com a intenção de acrescentar algumas vantagens a mais à sua liberdade de solteiro, está redigindo o primeiro parágrafo do seu futuro pedido de divórcio!

Padre Marcos Bach

Nenhum comentário:

Postar um comentário