quinta-feira, 11 de abril de 2013

JESUS, O PROTÓTIPO DE UMA NOVA HUMANIDADE


Se nossos teólogos fossem mais coerentes teriam que reconhecer que para granjear a simpatia de Deus é preciso ter a coragem de assassiná-Lo! Nem Agostinho, nem Santo Tomás, nem Lutero tiveram a audácia de ir tão longe!

O Deus que Jesus veio revelar-nos certamente não é um Senhor Poderoso que se nega a morrer pelo bem dos homens. Jesus morreu e era Deus. Por mais que ultimamente se tente provar que sua morte foi apenas aparente, o fato é que os Evangelhos são unânimes em afirmar que Jesus estava realmente morto quando foi retirado da cruz.

A morte de Deus faz parte da História da Salvação. Muito antes de ter morrido na cruz, Deus já tinha morrido no coração da maioria dos homens. Deus morre continuamente de muitas formas. Morre sempre que uma determinada imagem sua é arquivada ou jogada no esquecimento. Deus não morre, o que morre são imagens e representações nossas. Somos nós que morremos e renascemos toda vez que mudamos drasticamente nosso modo de nos relacionar com Ele. Dizer que Deus não muda é força de expressão. Sempre que eu mudo, Ele também muda.

A ideia de um Deus que pode mudar parece chocante à primeira vista. Estamos tão acostumados a ver Deus como entidade monolítica, imutável e inabalável, que a ideia de um Deus capaz de jogar o jogo dos homens seguindo regras que o homem ajudou a estabelecer, parece sacrílega. O homem, neste caso, é o Filho do Homem, Jesus, o Filho de Deus, que por esta sua condição divino-humana tinha o direito de falar em nome de gregos e troianos.

Passou o tempo em que era permitido falar mal dos homens. Hoje quem desconfia deles só pode fazê-lo comprometendo a imagem do Homem-Deus, que é Jesus, o protótipo de uma Nova Humanidade.

O valor do sacrifício não está no fato de se destruir um bem, mas no agrado que o gesto sacrifical iria proporcionar ao deus. O que interessava a um deus sumério não era o sangue do novilho, mas a sua carne. Ao lado dos chamados cruentos, havia os sacrifícios incruentos, onde não ocorria matança.

Quando dizemos que Jesus ofereceu sua vida em sacrifício, deveríamos ter o cuidado de não acentuar por demais aspectos que não são essenciais, como o sofrimento físico e o sangue derramado. O que nos salvou a todos foi o amor generoso e sem restrições com que Jesus consentiu em ser imolado. Não morreu como vítima indefesa, à semelhança de um cordeiro. Comportou-se em tudo muito mais como sacerdote. Ele é o único Sacerdote que se ofereceu a si mesmo a Deus, em lugar de lhe oferecer animais ou produtos da terra. A morte de Jesus não foi uma exigência do Pai. Nem deve ser considerada como condição prévia para a reconciliação de Deus com a humanidade.

Se crueldade houve na morte de Jesus, ela corre por conta e responsabilidade dos que o levaram à morte, mas não da parte de Deus. Qual o pai que sente prazer ao ver um filho sofrer? Qual o pai que vendo-o sofrer, não sofre com ele? Por que o Pai Celeste teria que ser diferente?
O que salvou a humanidade não foi a morte de Jesus, nem o seu sangue derramado, mas o amor infinito que o levou a assumir voluntariamente a morte mais infamante no seu tempo, a morte na cruz.

Por tudo isso não é admissível que se associe a morte de Jesus aos sacrifícios como eram praticados no templo. A época dos sacrifícios passou. Ao entregar a sua vida em holocausto tornou obsoleto qualquer outro sacrifício e com isso desautorizou qualquer tipo de sacerdócio que não seja o seu. Só temos um Sacerdote, Cristo, pois só temos um Mediador entre Deus e a humanidade legitimamente constituído.

Qualquer analista perspicaz pode chegar, lendo os Evangelhos, à conclusão de que Jesus não tinha a intenção de introduzir no seio da sua Igreja algo semelhante ao que se praticava no Templo. Seu projeto de Igreja tinha mais em comum com o que acontecia numa sinagoga. Lá a figura dominante era o rabino, e não o sacerdote. Lá se aprendia, em lugar de fazer procissões. Lá todos podiam participar, a seu modo, da vida de uma pequena comunidade local. Referindo-se a seu projeto de comunidade, Jesus a define como “Pequeno Rebanho”.

(Texto do manuscrito “A FONTE ORIGINÁRIA” de Pe. Marcos Bach, SJ –in memoriam).

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