quarta-feira, 17 de julho de 2013

CARACTERÍSTICAS DA IGREJA PRIMITIVA

É falsa a crença de que Jesus, ao se despedir do cenário histórico, tenha legado a seus discípulos um Projeto mal definido ou até se tenha abstido de se preocupar com a continuação da obra por Ele iniciada.

“Não vos deixarei órfãos, mas estarei convosco até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Esta palavra de Jesus foi perdendo força e credibilidade à medida que os apóstolos foram morrendo e seu lugar foi ocupado por “representantes de Cristo na terra”.

“Enviar-vos-ei o meu Espírito e ele vos ensinará na hora certa o que deveis de dizer” (Lc 12,12). Também esta palavra de Jesus acabou se perdendo em “ouvidos de mercador”!

Os primeiros cristãos não se sentiam órfãos, nem se comportavam como tais. Paulo se dizia apóstolo de Cristo, mas nunca se fez passar por “representante de Cristo”. Paulo nunca se atribuiu outra “autoridade” que aquela que lhe conferia a sua “incondicional fé em Cristo”. No fim de sua sofrida existência, diz com orgulho: “Completei a carreira, guardei a fé”  (2Tm 4,7).

O Cristo que o apóstolo Paulo pregava não é um Cristo ausente e distante da vida concreta dos membros de suas comunidades. É um Cristo que se alegra com os que estão alegres e sofre com os que sofrem.

Um bom retrato da Igreja apostólica nos é fornecido pelo livro Atos dos Apóstolos! São várias as características desta Igreja:

- Ela era doméstica, pois os seus membros se reuniam em famílias. No início o Templo de Jerusalém e a Sinagoga eram frequentados  pelos cristãos, mas após a destruição do Templo e a dispersão dos judeus, as comunidades cristãs passaram a se distanciar cada vez mais da sinagoga e do judaísmo, adquirindo personalidade religiosa própria. As “igrejas” fundadas pelo apóstolo Paulo eram pronunciadamente domésticas  e seus líderes eram chefes de família. Uma nota distintiva desta “igreja” era a posição destacada que nela ocupavam as mulheres. Lídia (Atos 16,14) e Priscila (Atos 18,2) são mulheres, que devido à sua posição social, muito contribuíram para a difusão da Fé Cristã. Ao traçar o perfil do bispo em sua carta a Tito, Paulo descreve-o como “marido de uma só esposa” (Tito 1,6).

- Ela era eminentemente “comunitária” e em certa medida até “democrática”. Dos seus membros o povo dizia: “Vede como eles se amam!”. Quando o apóstolo Pedro tomou a decisão de preencher o número dos “doze”, confiou à Comunidade a tarefa de escolher o substituto de Judas, o Iscariotes.

- Outra característica das primeiras Comunidades Cristãs era a crença na volta iminente de Cristo para completar a sua obra e iniciar a instauração do Reino de Deus. A “parusia”, isto é, o retorno de Cristo, era tido como iminente. Algo que poderia acontecer ainda em vida dos mais jovens. Esta crença motivou muitos “proprietários” de terras a vendê-las e a depositar o dinheiro, assim obtido, nas mãos dos Apóstolos. Tudo o que os membros da Comunidade possuíam era considerado “propriedade comum”! Este “comunismo” da Igreja Primitiva diferiu num aspecto fundamental do “comunismo” de Karl Marx, pois nele o direito de gerir os bens e de distribuí-los era exercido pela Comunidade, representada na figura do “diácono”, em lugar de confiar esta função ao Estado, representado na figura do “Comissário”!

- Na Igreja Primitiva ainda não havia espaço para a figura do “sacerdote”. O apóstolo Paulo se autodefine orgulhosamente como apóstolo de Cristo, mas não há uma única passagem em suas cartas em que se defina como “sacerdote”!

A “missa”, como a conhecemos hoje, só foi inventada mais tarde. Os fiéis se reuniam em “Assembleia” e a “Celebração Eucarística” era definida como “Banquete”, como “Ceia”, pois era realizada no fim do dia. A palavra “ágape” (= “banquete”) era empregada para definir o que se estava realizando. A ideia de definir como “sacrifício” o que se estava fazendo, só apareceu mais tarde! O “culto litúrgico” era visto, antes de tudo, como repetição simbólica do que acontecera no Cenáculo em Jerusalém e que passou à história com o nome de “Última Ceia”. Só bem mais tarde este gesto litúrgico passou a ser interpretado como símbolo do “sacrifício de Cristo na cruz”!

A diferença entre a atmosfera que reina num banquete e a que caracteriza a execução de uma sentença de morte é absoluta e total. Por isso pode-se afirmar que os cristãos da Igreja Primitiva estavam mais próximos da verdade e do pensamento de Jesus do que os atuais “rezadores de missa”.

Jesus não morreu na cruz na condição de “vítima” da maldade humana. Entregou-se livre e espontaneamente nas mãos de seus inimigos e algozes.

“Por isso o Pai me ama porque eu dou a minha vida e novamente a reassumo! Ninguém m’a tira e eu a ofereço espontaneamente” (Jo 10,17). Mais que vítima da maldade humana Jesus foi “vítima” de seu imenso amor pelos homens. É por isso que os primeiros cristãos foram mais sábios do que nossos teólogos de hoje. Cristo encerrou em caráter definitivo a era dos “sacrifícios” dando início a uma “Nova Era”! Ninguém tem mais o direito de tirar ou de invadir a vida de alguém!

Do manuscrito “SE NÃO VOS CONVERTERDES...” de Pe. José Marcos Bach, SJ

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