quarta-feira, 18 de setembro de 2013

OS INIMIGOS DA IGREJA

Quem põe em discussão a validade do regime de governo da Igreja católica corre o risco de ser confundido com os piores inimigos da Igreja. Mas este é um dos muitos riscos que todo cristão honesto é obrigado a correr. A subserviência a um sistema jurídico visceralmente iníquo não faz parte da fé em Cristo. Pelo contrário. Cristo, ele próprio, foi morto porque atacou de frente o regime religioso imposto por sacerdotes e doutores da lei à consciência do povo judaico.

Se queremos que o projeto messiânico de Jesus venha a sobreviver e tenha lugar e espaço no mundo de amanhã, temos que pensar em dissociá-lo ciosamente de tudo o que tem algo a ver com o seu atual regime de governo. Não é a Igreja de Cristo que está sendo rejeitada, mas um modelo superado de Igreja, imperialista e dominador.

Espero que o leitor deste escrito tenha a honestidade de não atribuir a seu autor intenções e responsabilidades que ele não tem. Mas, poderá alguém dizer: a Igreja não é uma instituição como as outras. Ela possui garantias da parte de Cristo que lhe assegura um futuro tranquilo, pois seu fundamento é a “Rocha de Pedro”. Hoje sabemos melhor do que no passado que rochas também podem ceder e afundar.
           
O que vale para a Igreja de Cristo não pode ser aplicado “ipso facto” e sem mais ao modo como os sucessores dos apóstolos organizaram a sua presença no mundo. O regime de governo da Igreja tem por objetivo estabilizar e regulamentar as relações entre os membros da comunidade eclesial. É condicionado pelo tempo histórico e pelo ambiente cultural. O que importa mesmo é a relação do homem com Deus e com seus semelhantes. O modo como o Evangelho de Jesus será pregado e comunicado aos homens não foi definido por Cristo. Deixou isto a cargo de seus seguidores. E não apenas de uns poucos. Hoje a que mais insiste em ser a herdeira genuína e legítima do pensamento de Cristo e de Paulo é muito mais romana do que católica. Nela as estruturas jurídicas e políticas do Império Romano continuam vivas, mais que no coliseu ou em qualquer museu arqueológico.

Há dois tipos de inimigos da Igreja: os de dentro e os de fora. Os de dentro são os que confundem fidelidade à Igreja de Cristo com fidelidade à tradição. Não querem que a Igreja se livre do seu passado, já que eles mesmos se beneficiam de privilégios oriundos deste passado.

Os de fora são menos perigosos. Um Quinta Coluna é sempre muito mais perigoso do que qualquer inimigo declarado. Seria talvez exagero afirmar que a Igreja católica está cheia de Quislings, de colaboradores dos seus piores inimigos. Entre estes estão todos os que pretendem “aguar” a mensagem do Evangelho de Cristo. Há duas maneiras de fazê-lo: uma consiste em “politizá-la”. A outra em “institucionalizá-la”. Para os que só pensam em permanecer na crista da onda, o essencial é a ordem estabelecida. Temem mudanças na Igreja mais do que doente o bisturi.

Os piores inimigos da Igreja já não são mais os comunistas. Todos os poderes que tinham interesse em eliminar o cristianismo como força moral e religiosa encontram-se infiltrados nas Igrejas. É a eles, inimigos confessos da mensagem de Cristo, que as Igrejas todas devem a sua sobrevivência financeira.

In: Manuscrito de Pe. José Marcos Bach, sj

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