sexta-feira, 15 de novembro de 2013

VISÃO COERENTE DA SOCIEDADE 

Atribuir ao progresso tecnológico alguma forma de “culpa” pelos muitos problemas da sociedade atual é recurso ideológico de moralistas atrasados. 

Todo progresso tecnológico é uma bênção do céu, inclusive o que permite ao homem interferir no processo da reprodução. Se é permitido transplantar órgãos, executar criminosos e matar soldados na guerra, então só nos resta uma única alternativa honrosa: trocar o discurso vigente acerca da dignidade do homem e o caráter sagrado da vida por um outro, mais coerente, mais honesto e menos hipócrita.
        
Uma sociedade civilizada de verdade não pode tolerar sequer que uns poucos ricos continuem enriquecendo, enquanto a grande maioria da população mundial é composta de pessoas que a cada ano vão ficando mais pobres. A riqueza global cresce na mesma proporção em que aumenta o número de miseráveis. A culpa que leva tanta gente a descrer da humanidade e na sua capacidade política de resolver os problemas que estão se acumulando, não é do progresso material, científico e tecnológico.
        
Não é a natureza pervertida do homem a culpada. Pois se assim fosse, não haveria culpados no sentido estrito do termo, já que a nossa natureza a recebemos do Criador, assim como ela é. Desde que saiu da Mente do Criador, a natureza humana não sofreu mudança essencial. A inclinação para o mal é antes invenção de moralistas medrosos do que fato comprovado. Para aspectos negativos do comportamento humano sempre há espaço nos meios de comunicação. Os horrores de um campo de batalha atraem a atenção e mexem com a curiosidade humana muito mais que o interior de um hospital.
        
Tudo isto desperta nas pessoas a impressão de que o mal é onipresente e de que a humanidade é composta de gente sempre pronta a praticar o mal. Após um filme de horror, o espectador fica com a sensação de que o homem é por natureza um ser sádico, pouco inclinado a morrer de amores por seus semelhantes. Boa parte da culpa por esta concepção preconceituosa cabe às religiões, que baseiam sua influência antes na má consciência dos seus adeptos do que na sua disposição de praticar o bem de preferência ao mal.
        
Todas as religiões oferecem ao indivíduo recursos de salvação que ele não pode encontrar em si mesmo. Convencem as pessoas de que sem a ajuda dos seus ensinamentos e mandamentos elas não têm como entrar no caminho que leva a Deus. Consideram-se não apenas depositárias exclusivas de conhecimentos que só elas estão em condições de oferecer, mas dispõem também de meios especiais de santificação. Certos ritos e práticas são tão necessários à salvação, dizem, quanto a fé em Deus.

Não há religião que não exija dos seus fiéis fé incondicional em sua doutrina e nos meios de santificação que oferece. Todas inculcam na consciência dos seus adeptos o mesmo dogma fundamental: o indivíduo não possui em si mesmo os instrumentos de que necessita para a sua plena realização.

Padre Marcos Bach

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