COMO SAIR DO IMPÉRIO DA SUPERFICIALIDADE
Poucos de nós sabem o
que é amor. Contentamo-nos com muito pouco! Agimos como o garimpeiro: ciscamos
a superfície na ilusão de que abaixo dela não existe mais ouro que valha a pena
trazer à tona.
Mais ricas do que as
reservas de ouro do nosso planeta são as reservas de amor ocultas na alma de
cada ser humano, pobre ou rico, bom ou mau, religioso ou não. Na verdade não
passamos de “faiscadores” e de escaravelhos empenhados mais em explorar a superfície
de nossas vidas e a casca de nossas personalidades!
Nossa civilização é recente e sempre se esmerou em
cultivar de preferência valores de superfície. A fachada externa dos templos do
progresso era vista e tratada com um carinho que o seu interior não podia
contar! Superficial e de fachada: é isto o que é a nossa civilização, da qual
tanto nos orgulhamos. Ela nasceu decadente e já teria desaparecido não fosse o
alento adicional que o cristianismo lhe veio trazer.
A nossa é uma
civilização caduca, além de condenada à extinção! E por quê? Porque se fixou na
matéria, em vez de priorizar os valores do espírito. Porque priorizou a ânsia
de ter, em lugar do ser! Porque ofereceu aos homens uma
falsa segurança. “Deem-nos a sua liberdade e o seu tempo, e nós cuidamos da sua
segurança!”. “Desconfiem sempre de si
mesmos e ponham toda a sua confiança em nós! Somos os acólitos do Grande
Inquisidor! Conhecemos a natureza do homem melhor do que Cristo. Os homens não
sabem o que fazer com a sua liberdade! Por isso nós tomamos conta dela! Ao
privar os homens de sua liberdade, colocamo-los no único caminho capaz de
levá-los a um futuro melhor!”.
É com discursos deste tipo que movimentos religiosos
de impronta fundamentalista estão bombardeando as consciências de seus
“fiéis”. A realização plena de cada indivíduo humano é o resultado de um ato
interno de submissão a um poder externo. É esta a tese fundamental de todo
sistema totalitário.
A tomada de distância em
relação a todas as instituições que impedem as pessoas que entrem em seu interior, que confiem em si
mesmas e que se amem a si próprias, é pré-requisito e conditio sine qua non
para todo aquele que deseja participar da grande aventura espiritual que está
tendo início.
Uma boa hora de
introspecção séria e crítica é suficiente para mostrar a alguém o quanto ele é
um galé amarrado. Amarrado como o galé a bordo de um navio. Só pode
movimentar-se dentro de um pequeno espaço determinado pelas necessidades da
embarcação. Se esta “embarcação” se chama Estado, Partido ou Igreja, pouco
importa. O importante é impedir que a tripulação assuma o comando do “navio”.
Padre Marcos Bach
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