quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

INTERROGAR O FUTURO É PRECISO

Se eu quisesse falar em nome e em sintonia com a Igreja, em nome da qual falam o papa e os bispos por ele nomeados, bastar-me-ia copiar o catecismo romano. O discurso oficial das Igrejas todas é basicamente o mesmo de dois séculos atrás! Desde então aconteceram revoluções que abalaram praticamente os fundamentos todos da assim chamada ordem estabelecida. Fracassaram todas as tentativas de restaurar a hegemonia do tempo passado sobre o tempo futuro. Os únicos campos em que ainda há espaço para concepções fundamentalistas são o político e o religioso. No terreno econômico não há mais lugar para fundamentalistas e ideólogos. O mesmo se pode afirmar a respeito do campo das atividades científicas.
           
Tem toda a razão o físico David Bohm quando constata que tanto a evolução da vida como a revolução dos corpos celestes é antes de mais nada uma complexa e poderosa manifestação de amor!

O que é o amor na visão de um cientista como Bohm senão a alma e a energia constitutiva de um cosmo em contínua transformação? Refletindo como fizeram Einstein, Heisenberg, Bohm e outros muitos mais, chega-se a ter uma ideia da distância que separa o pensamento mecanicista de um Newton da concepção holística de um físico moderno.
           
O que a muitos se parece com distância, a outros se apresenta como fosso intransponível. Um deles era o filósofo francês Charles Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente impossível reatar a ligação do presente com o passado!

O que é mais importante: saber como nossos antepassados enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter alguma resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas no bojo de um futuro aparentemente imprevisível.
           
O passado é pobre em lições verdadeiramente significativas! A história do povo judeu é pobre em lições úteis. Na história do povo judeu Javeh, seu Deus, sempre se sai melhor do que o seu povo. Javeh se preocupa com o futuro do seu povo enquanto este chora de saudade das panelas de carne com cebola do Egito!
           
É o futuro que devemos interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade e das intenções de Deus!
           
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado, presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
           
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos.

Não é correto comparar o fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo com o que acontece no interior de uma semente em trabalhos de parto!

Padre Marcos Bach

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