A MUDANÇA NA CONCEPÇÃO DE SAÚDE E DOENÇA
A medicina emigrou ao longo de sua história, passando
do método meramente analítico para um modo mais sintético de conceber saúde e
doença.
A medicina psicossomática não vê mais o paciente como
vítima de fatores biogenéticos e ambientais sobre os quais não tem poder. Hoje
não há médico bom e em dia com os conhecimentos mais avançados da sua profissão
que não trate o seu cliente como responsável pela doença que o levou a procurar
ajuda médica. Deixamos de encarar a doença como fatalidade e a saúde como pura
dádiva da natureza. Registramos a saúde na lista das responsabilidades
fundamentais de todo ser humano. Somos responsáveis pelo bom funcionamento dos
órgãos do nosso corpo.
Há muito que a medicina do Antigo Oriente já se tinha
dado conta de que existe uma relação íntima entre e saúde física e saúde
mental. A medicina ayurvédica se baseia na crença de que a doença física é obra
de uma mente adoentada. É do poeta romano Juvenal a frase: “Rezemos para ter
uma mente sã num corpo são”.
Em vez de gastar tempo e dinheiro cuidando do corpo
sem se preocupar com o que se passa no interior da mente, melhor seria cuidar
um pouco mais da sua saúde mental, isto é, psíquica, moral, política e
espiritual. O que acontece em torno de você nada mais é do que o reflexo no
campo social externo do que foi gestado no foro íntimo de mentes humanas
individuais. É da conjunção de muitas correntes menores que se origina um
tufão. Uma epidemia social como o terrorismo e a guerra, como o capitalismo
predador e o socialismo castrador, só aparece como fenômeno visível depois que
se tornou praticamente incurável por ser inextirpável. Um exemplo é o fenômeno
do crime organizado, intimamente ligado a outros fatores tão nocivos quanto o
próprio mundo do crime organizado.
O crime organizado rivaliza com o poder público na
luta pelo poder. Mas fica sem resposta outra pergunta: como combater as
pretensões dos senhores do “Comando Vermelho” se dentro do setor público existe
a corrupção organizada? Enquanto houver usuários, haverá traficantes. Enquanto
houver viciados, haverá vícios. É uma forma das mais veladas de ofendê-lo jogar
comida no prato de um pobre pai de família como se joga pasto na cocheira de um
boi.
Problemas sociais sempre os tivemos, mas até hoje
ainda não descobrimos um modo digno de enfrentá-los. Tratamos o pobre como se
ele fosse o único culpado por sua situação. Temos o hábito malsão de
transformar em benefício tudo o que transferimos da nossa conta para a do
pobre. O Brasil está cheio de benfeitores dos pobres. Neste país é fácil ser
benfeitor: basta doar a uma instituição de caridade o que depois pode ser
descontado do imposto de renda. É isso aí: até no ato de praticar a caridade
procedemos como bons capitalistas!
Padre Marcos Bach
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