quinta-feira, 22 de maio de 2014

A MUDANÇA NA CONCEPÇÃO DE SAÚDE E DOENÇA

A medicina emigrou ao longo de sua história, passando do método meramente analítico para um modo mais sintético de conceber saúde e doença.
           
A medicina psicossomática não vê mais o paciente como vítima de fatores biogenéticos e ambientais sobre os quais não tem poder. Hoje não há médico bom e em dia com os conhecimentos mais avançados da sua profissão que não trate o seu cliente como responsável pela doença que o levou a procurar ajuda médica. Deixamos de encarar a doença como fatalidade e a saúde como pura dádiva da natureza. Registramos a saúde na lista das responsabilidades fundamentais de todo ser humano. Somos responsáveis pelo bom funcionamento dos órgãos do nosso corpo.
           
Há muito que a medicina do Antigo Oriente já se tinha dado conta de que existe uma relação íntima entre e saúde física e saúde mental. A medicina ayurvédica se baseia na crença de que a doença física é obra de uma mente adoentada. É do poeta romano Juvenal a frase: “Rezemos para ter uma mente sã num corpo são”.
           
Em vez de gastar tempo e dinheiro cuidando do corpo sem se preocupar com o que se passa no interior da mente, melhor seria cuidar um pouco mais da sua saúde mental, isto é, psíquica, moral, política e espiritual. O que acontece em torno de você nada mais é do que o reflexo no campo social externo do que foi gestado no foro íntimo de mentes humanas individuais. É da conjunção de muitas correntes menores que se origina um tufão. Uma epidemia social como o terrorismo e a guerra, como o capitalismo predador e o socialismo castrador, só aparece como fenômeno visível depois que se tornou praticamente incurável por ser inextirpável. Um exemplo é o fenômeno do crime organizado, intimamente ligado a outros fatores tão nocivos quanto o próprio mundo do crime organizado.
           
O crime organizado rivaliza com o poder público na luta pelo poder. Mas fica sem resposta outra pergunta: como combater as pretensões dos senhores do “Comando Vermelho” se dentro do setor público existe a corrupção organizada? Enquanto houver usuários, haverá traficantes. Enquanto houver viciados, haverá vícios. É uma forma das mais veladas de ofendê-lo jogar comida no prato de um pobre pai de família como se joga pasto na cocheira de um boi.
           
Problemas sociais sempre os tivemos, mas até hoje ainda não descobrimos um modo digno de enfrentá-los. Tratamos o pobre como se ele fosse o único culpado por sua situação. Temos o hábito malsão de transformar em benefício tudo o que transferimos da nossa conta para a do pobre. O Brasil está cheio de benfeitores dos pobres. Neste país é fácil ser benfeitor: basta doar a uma instituição de caridade o que depois pode ser descontado do imposto de renda. É isso aí: até no ato de praticar a caridade procedemos como bons capitalistas!

Padre Marcos Bach

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