quinta-feira, 19 de junho de 2014

O AMOR É GRATUITO E INCONDICIONAL

A crença na existência de um órgão espiritual destinado a pôr o espírito do homem em contato com o divino é anterior a Jesus Cristo. Já o filósofo grego Platão, que viveu três séculos antes de Jesus, fala da existência de uma “centelha divina” presente no interior de toda pessoa humana. Jesus apenas regou com as águas abundantes da sua Graça o que Platão e outros pensadores gregos tinham semeado.

A ideia de que o interior do homem é terreno devastado pela ação de um hipotético pecado original é incompatível com a mensagem otimista de Jesus. “Se alguém me ama e crê em mim, Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Para que isto venha a acontecer só há um único requisito a preencher: abraçar, sem reservas, a causa de Cristo. Além do Amor que Deus nos oferece não existe mais nada que se possa classificar como exigência.

O amor é gratuito e incondicional, por isso ele é inegociável. Quando após uma briga um casal volta a fazer as pazes, isto não quer dizer que voltou a se amar novamente como antes ou até mais do que antes. Não há no terreno afetivo briga que não deixe sequelas.

Quem atingiu no terreno afetivo o nível de um amor perfeito como é perfeito o amor incondicional de Deus, pode fazer o que bem entende. O amor é o limite que separa o que é inegociável do que pode ser objeto de negociação. Deus não castiga ninguém. Menos ainda pensa em privar alguém do seu amor e da sua amizade.

O inferno foi criado por homens que, se não tiveram a intenção de fazê-lo, acabaram por insultar a Deus. Deus não usa o castigo como instrumento pedagógico. Sua resposta única ao pecado dos homens é o perdão e quando este não é solicitado sua resposta é a espera paciente. Um Deus que castiga, ou, ao menos está mais disposto a punir do que a perdoar, não deve contar com a simpatia de policiais e dos representantes da autoridade constituída. Jesus que o diga! Pois foram eles os responsáveis por sua morte.

Se queremos contar com o apoio de um aliado fiel e incorruptível devemos procurá-lo dentro de nós, pois é lá e não fora de nós que ele se encontra. Enquanto o ego passa o tempo nos iludindo, o superego se dedica à tarefa de zelar para que as exigências da parte já programada de nossa consciência venha a sofrer as consequências da atividade da parcela ainda livre da nossa consciência total.

Os planos ainda livres se encontram além do ego e fora do alcance da ação tirânica do superego. A psicanálise decompõe a consciência em suas partes, mas como a consciência não é um todo composto de partes, mas uma totalidade inconsútil, não será a análise que nos vai levar a compreendê-la. O cientista que viu isto melhor que outros foi o italiano Roberto Assagioli. Criou um método de atendimento psicológico a que deu o nome de Psicossíntese. Seu método é o oposto do método psicanalítico de Freud. Enquanto Freud via as árvores, mas não via a floresta, Assagioli chegou à conclusão de que a consciência humana era, em sua essência, uma estrutura verticalizada. Que ela ocupa o espaço psíquico elevando-se de baixo para cima. Onde Freud não via mais nada, Assagioli percebeu a presença de um patamar mais elevado da consciência total, ao qual deu a denominação de Eu Superior. A este Eu Superior Assagioli atribui a função que numa orquestra cabe ao regente.

A própria orquestra se autorregula. Isto é, a própria consciência regula a sua produção. Para isto ela precisa de se livrar da interferência não só da polícia, como da atividade perturbadora tanto do ego como do superego. Ambas estas instâncias representam o que se convenceu definir como “Cavalo de Troia”. São uma armadilha e dentro dela se escondem os que pretendem ter o direito de impor sua vontade a outros.

Padre Marcos Bach

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