quinta-feira, 5 de junho de 2014

O CONSUMISMO ESCRAVIZA O ESPÍRITO HUMANO

O consumismo representa uma das mais sorrateiras formas de escravizar o espírito do homem. Não há escravo mais digno de lástima do que aquele que sucumbiu à tirania dos seus próprios desejos e necessidades.

O terreno social abrange o relacionamento do homem com a natureza, com seus semelhantes, com Deus e consigo mesmo. Infelizmente é este o terreno em que o cristianismo colheu a maior parte dos seus fracassos. O nível do relacionamento entre indivíduos e povos é praticamente o mesmo da época de Cristo. O que piorou, e muito, é a maneira como os homens tratam a natureza. A carga de insensatez que nosso pobre planeta tem que suportar coloca-o à beira do colapso. Não é só o equilíbrio ecológico que está sendo perturbado de forma crescente. Em situação pior se encontra o equilíbrio emocional das pessoas. Para a maioria delas a vida se transformou numa corrida desenfreada contra o tempo. Pode alguém ainda levar a sério o conselho de Jesus: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã?”. E o respeito pela vida em que pé anda?
           
A quantidade incrível de seres vivos e de formas de vida diminui a olhos vistos, ano após ano. Entre as espécies ameaçadas de extinção encontram-se representantes da biosfera que o homem não teve tempo sequer de conhecer! Em situação ainda mais lamentável encontra-se o respeito pela vida humana. Poucos são os direitos sancionados pela moral que o direito de matar! Não se pode matar pelo prazer de matar! Condenável é a prática dos caçadores de cabeças do Bornéo. Digno, porém, de uma Cruz de Ferro ou de uma Legião de Honra é o “herói” que matou o maior número de “inimigos”.
           
Quem quer matar à vontade tem que transformar em inimigos o maior número possível de semelhantes seus. Quem acha que não existe na atualidade ninguém interessado em dividir a humanidade em frentes adversas e inimigos ou é cego, ou é mal intencionado. Ou é otário ou é inocente útil, o que vem a dar no mesmo.
           
“O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o tereis feito” (Mt 25,40).
           
Será que o impressionante número de crianças abortadas, mal alimentadas e mal amadas está chegando até os ouvidos do Criador? E todos aqueles que enxovalham a inocência de uma criança, por quanto tempo poderão continuar a fazê-lo? E as multidões que são obrigadas a se contentar com as migalhas que caem de mesas fartamente servidas?        

Comparadas com as ameaças que representam os estoques de armas químicas, biológicas e nucleares à espera da mãe de todas as guerras, existe um estoque ainda mais assustador de armas psicológicas e morais.
           
Na mão de um Francisco de Assis um fuzil se torna absolutamente inofensivo. A quantidade de armas e seu poder de destruição não constitui um problema em si. São as pessoas que dispõem deste poder que o transformam em problema. Para ser mais preciso: o problema são eles e não os “escudos defensivos” que estão construindo.
           
Quem são estes homens mais perigosos do que as armas de que podem dispor? Há uma palavra que os abrange a todos: são os donos do poder econômico! Pertencem a duas categorias sociais distintas:
        - Os autocratas que depositam mais fé no exercício do poder que nas virtudes do amor e da solidariedade fraterna.
        - Os plutocratas que atribuem valor maior ao lucro do que ao trabalho.
Tanto um como o outro dos dois sistemas de relacionamento social rebaixa as pessoas envolvidas no processo à condição de instrumento.
O poder e o dinheiro acabam por escravizar tanto ao que não o possui como ao que o possui. Existe um meio termo entre ter demais e ter de menos. Cristo o define com a palavra pobreza!
           
No mundo proposto por Jesus como ideal, pregado antes dele por Buda e sonhado por Marx, não havia lugar nem para miseráveis nem para ricaços bilionários. Na comunidade de fé proposta por Jesus também não há lugar para monsenhores e prelados. Não fazem parte do Projeto Eclesial de Jesus as diferenças hierárquicas que vigoram hoje em boa parte das Igrejas cristãs. “Ninguém dentre vós se chame de senhor, de mestre ou de pai, porque vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
           
Do ponto de vista religioso podemos classificar como perigosos aqueles que submeteram a mensagem de Jesus a um tratamento ideológico, o que os levou a re-interpretar as Palavras de Jesus à luz de conveniências político-culturais. A palavra que Jesus dirigiu a Pedro era esta: “Conforta teus irmãos”! Alguém dirá, a Igreja católica poderia ser diferente e até mesmo radicalmente diferente sem trair a sua missão essencial. Mas, qual é esta missão essencial?
           
Apascentar o Povo de Deus como um pastor apascenta seu rebanho? Sentar-se numa cátedra e redigir catecismos e cartas encíclicas? Não é o Anúncio da Boa Nova a sua missão essencial? “Pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Também os enviou a pregar o Reino de Deus” (Lc 9,2).
           
Quem quer ser sucessor genuíno dos Apóstolos têm que endossar a identidade de um autêntico Apóstolo e levar a sério as recomendações feitas por Jesus a seus Apóstolos.
       
Uma Igreja que se adaptou tão bem ao “mundo dos negócios” que não consegue mais distinguir e separar o essencial do regimental, certamente não está colocando os pés nas pegadas de Cristo e de Paulo de Tarso. É possível que a Igreja católica se tenha tornado prisioneira de negócios e de atividades que já não fazem mais parte da sua Missão Essencial. “Ide e pregai...”, quantas vezes Jesus repetiu esta frase!
       
“Ai de mim se não pregar...” (I Cor 9,16).
       
Pregar, na época de Cristo, era bem mais cansativo e perigoso do que hoje, já que se tornou possível conversar com pessoas de todo o mundo sem sair de casa. Aí está a Internet, o telefone, o celular, etc. Paulo, se fosse vivo, certamente se faria ouvir via Internet.

Padre Marcos Bach

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