terça-feira, 5 de agosto de 2014

UM NOVO MODELO DE FAMÍLIA QUE SEJA BELO E ATRAENTE

Se queremos uma nova sociedade humana temos que pensar num novo modelo de família. E se temos o propósito sério de não continuar a malhar em ferro frio, temos que pensar no tipo de rapaz e de moça com que vamos poder contar para a execução de tal projeto.
        
Não basta esboçar um modelo teórico de família se não temos quem o execute na prática. Um modelo não se impõe por decreto e de cima. Um modelo tem que ser belo e atraente, pois é pelo caminho do fascínio que ele se imporá à consciência dos futuros pais e mães de família.
        
Não se ama nem se deseja o que não se conhece. A família é um valor cultural a respeito do qual existe muito mais palpite do que conhecimento científico e filosófico. Normas não faltam, o que falta é conhecimento. (Comparando):  Preocupamo-nos com o estado do carro e um pouco menos com a trafegabilidade das estradas, mas quase nenhuma atenção prestamos à capacidade e ao estado de espírito dos motoristas. No caso da família o motorista é o casal. Se eles não sabem como dirigir uma família, ninguém poderá substituí-los nesta tarefa, nem escola, nem igreja.
        
O que se pode esperar de jovens que gastam tempo precioso, saúde e o melhor das suas energias em bacanais, orgias noturnas? O que terá com que contribuir para uma futura vida de família o punhado de jovens fanatizados, mais dispostos a dar a sua vida do que vivê-la plena e integralmente?
        
Quem está mais disposto a dar a sua vida e a sacrificar-se por uma grande causa não deve pensar em fundar uma família e faz bem quando decide abraçar a vida celibatária. Quem tem vocação para mártir não deve abraçar a vida matrimonial. O matrimônio não é nenhum calvário e a família não é nenhum purgatório ou lugar de expiação.
        
Alimentamos a crença de que a juventude termina com o início da vida de casado. Com o casamento termina a vida fácil. Não é isto que o casal de noivos é obrigado a ouvir nos cursos de noivos? A vida que um rapaz e uma moça levaram antes de casar será a mesma que vão viver depois quando casados. É superstição pura e irresponsabilidade total imaginar que uma simples troca de etiqueta social possa operar o milagre de transformar um libertino irresponsável num pai de família responsável e digno de crédito. Ninguém se converte “a toque de caixa” e “ex opere operato”, isto é, por obra do poder mágico de um gesto sacramental.

Quem desperdiçou a juventude é, via de regra, aquele a quem não foi permitido ser nem adolescente nem criança. É pura ilusão imaginar que ele tenha condições de um dia se comportar como adulto.

Se queremos que a humanidade de amanhã seja melhor que a de hoje, temos que dar mais ouvido ao que o mundo jovem nos está dizendo. Extremamente importante é saber o que eles pensam da família e que tipo de família pretendem fundar um dia.
        
São jovens que arrebatam medalhas nos jogos Olímpicos. São jovens que morrem nos campos de batalha. Tem-se a impressão de que ser jovem é algo que começa logo no início da existência, chega aos tropeços e termina bem depressa. Além de tudo cometemos o erro de considerar o corpo como portador da juventude, deixando de lado a alma, a mente e o espírito. Confundimos saúde com bem-estar físico e juventude com vigor físico. Além de definir mal o que significa ser jovem e além de situar de maneira errada a juventude no contexto existencial todo, cometemos o erro de não preparar nossas crianças para esta fase tão crucial de suas vidas.
        
Ser jovem não é algo que dura pouco e mais se parece com castigo do que com festa.
        
Enquanto a moçada sonha com emprego e casamento, suas mães lotam os institutos de beleza e as clínicas de cirurgia plástica. O jovem quer tornar-se adulto o mais depressa que for possível. Os “coroas” fazem de tudo para dar a impressão de que continuam jovens.
        
A juventude é uma propriedade da vida humana e não apenas uma fase passageira. E não é condicionada pelo estado físico de uma pessoa. É curioso verificar que o cérebro humano não envelhece. Mesmo estropiado, sempre volta a encontrar um modo de se refazer. Velho é aquele que se autodefine como tal. Jovem pelo resto da vida é o adolescente que soube assumir a sua borbulhante juventude.
        
A preocupação dominante em nossos ambientes educativos não inclui a tese de que infância, adolescência, mocidade, meia-idade e terceira idade formam um todo unificado e não podem ser tratados como etapas separadas e sem interrelação entre si. A passagem de uma etapa para outra não pode ser interpretada como ruptura. A larva que se torna crisálida carrega consigo tudo o que de aproveitável conseguiu acumular durante o tempo em que era bicho cabeludo.
        
O bom comportamento de um adolescente depende do modo como este pôde viver a sua infância. Jovem responsável será o que pôde viver a sua adolescência sem o sufoco de uma disciplina castradora.
        
O adolescente quer aprender a ser moço e este quer aprender a ser adulto. Cada nova fase oferece um repertório inesgotável de lições novas. A criança que nada aprende jamais será outra coisa do que uma “grande criança”.
        
O velho sábio digno de toda a admiração e de todo o amor deste mundo é tão infantil quanto o bebê aninhado no colo da mãe. É adolescente tão iconoclasta quanto os que mais o são. E jovem porque continua tão otimista e idealista como era no tempo em que frequentava a universidade.

O Matrimônio e a Família

É o matrimônio e a família uma invenção da mãe-natureza ou uma criação da mente racional do homem? Ou por outra: é a família, como a conhecemos, o resultado de um processo biológico e biogenético ou é, pelo contrário, um processo especificamente cultural e tipicamente humano? Podemos confiar à natureza a tarefa de orientar o homem quando o assunto é vida em sociedade? Se fôssemos entregar a machos e fêmeas a organização da atividade sexual, provavelmente nos encontraríamos no mesmo estágio evolutivo que o chimpanzé bonobo. Ou, na melhor das hipóteses, estaríamos marcando passo com nossos ancestrais remotos, com os representantes do Homo Troglodita. A humanidade progrediu neste terreno porque criou mecanismos de controle social, tirando o assunto do terreno da livre iniciativa particular e impondo restrições à livre expansão do desejo individual.
           
Da subordinação do interesse individual ao da espécie é que nasce a Moral. Entre lobos o privilégio de engravidar as fêmeas é prerrogativa do chefe do bando que terá este direito enquanto for o macho mais forte do bando. Mais importante do que manter os outros machos afastados do “harém” era manter as fêmeas em clausura e impedi-las de usar seus encantos naturais para seduzir outros machos. Mais que aos machos é preciso trazer de olho as fêmeas. “É através de uma mulher que o pecado entrou no mundo”, rezam os Livros Sagrados de judeus, cristãos e muçulmanos. A mulher é o perigo. Manter a mulher longe do altar é imperativo categórico de quem deseja proteger a virtude contra o vício. Não é por acaso que a palavra virtude tenha parentesco etimológico com a palavra latina “vir”, que significa varão.
           
Já entre os judeus antigos a mulher de verdade era a dona de casa circunspecta e corajosa, capaz de administrar sozinha os bens do marido. Aqui no Brasil tornou-se emblemática a figura da Amélia, mulher de verdade, disposta a “engolir todos os sapos” que o marido lhe jogava no prato.
           
Nossa situação no campo do relacionamento sexual é desastrosa. Onde foi que erramos tanto a ponto de não sabermos mais se vale a pena retomar o fio da história ou se o mais indicado é desfazer-se do passado e começar da estaca zero?
           
Durante milênios exageramos no terreno dos controles sociais. Elaboramos um código moral hipócrita e repressivo, onde evitar o mal era mais importante que praticar o bem. Guindamos o celibato e a abstinência sexual à condição de castidade perfeita. Permitimos que a mulher fosse subordinada ao homem e tratada como cidadã de categoria inferior. Não permitimos que uma criança descubra o sexo e a sexualidade como uma das maiores maravilhas do mundo. Associamos sexo e prazer à noção de pecado numa medida que beira à histeria, ao menos no ambiente dos devotos da virtude angélica.

Bem cedo uma criança aprende a cobrir o sexo com o manto da vergonha. Associamos sexo com sujeira e porcaria. O que acontece ao abrigo dos lençóis de uma cama de casal é tabu, assunto que não se comenta.
           
O animal obedece a seus impulsos sem o menor constrangimento. Um homem que fizesse o mesmo se exporia ao risco de morrer apedrejado. Somos “animais”, mas temos que renegar nossa animalidade se quisermos que não nos internem num Jardim Zoológico.
           
Não somos anjos, mas no campo sexual somos incitados a imitá-los. Já que anjos são por natureza seres assexuados, a prática da castidade angélica só pode coincidir com a prática da abstinência total.
           
O animal pode confiar em seu instinto e os anjos podem confiar em sua condição de espíritos puros, só homens e mulheres não podem confiar em seus impulsos “venéreos”. Sabem que se existe em alguma parte, dentro e/ou fora deles, um ponto de equilíbrio, uma forma de comunhão sexual mais tranquila, ela se encontra de momento mais distante do que nunca. E o que é pior: a perturbação aumenta com cada nova descoberta científica. A confusão aumenta na mesma proporção em que descobertas científicas e metacientíficas ampliam o leque de conhecimentos que temos da sexualidade humana.
           
Esta confusão de ideias, de valores e de critérios de avaliação é típica de épocas de transição. Há na história do progresso humano épocas em que a mente humana mais se assemelha a um liquidificador ou batedeira. Neste período da história as mentes mais argutas se dedicam à tarefa de retalhar o manto inconsútil das verdades consagradas.

Padre Marcos Bach

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