segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A BELEZA DA INTROSPECÇÃO

A palavra meditação é empregada para descrever um exercício de introspecção cujo objetivo último é colocar o consciente em contato com o inconsciente.
        
O yoga, tal como é praticado no hinduísmo, tem por objetivo penetrar no inconsciente de maneira tão completa que do mundo exterior e dos conteúdos do consciente nada mais reste.
        
A meditação, tal como é praticada nas Escolas do Zen-Budismo não visa a eliminação do consciente. Pelo contrário, pois visa colocar as atividades do mundo exterior e os conteúdos da consciência consciente em harmonia com o inconsciente.
        
Faz parte da sabedoria oriental a crença de que o espírito do homem é governado e dirigido por forças sediadas em seu próprio interior. E que é a partir daí que a humanidade irá definir e decidir o seu destino. As civilizações vêm e passam. Se a herança que transmitem à posteridade não for um tipo humano mais evoluído, então sua passagem pela história nada mais foi do que uma lamentável perda de tempo.
        
Muito antes de Kant os sábios do Oriente antigo já sabiam que o produto mais nobre da mente humana não é o pensamento, mas a inspiração. Ou por outra: o conhecimento intuitivo é superior ao conhecimento racional e muito menos sujeito a distorções e interpretações equivocadas do que este último.
        
A meditação não se faz substituindo ideias menos corretas por outras mais confiáveis. Não consiste em substituir um raciocínio por outro mais apurado. O primeiro passo a ser dado por quem quer aprender a arte de meditar é deixar de pensar. Quem só usa a sua mente para produzir pensamentos acabará tendo o mesmo destino que o burro da fábula, que morreu pensando.
        
Tudo o que conseguimos pensar a respeito de nós é lixo na medida em que nos contentamos com o que a nossa mente racional nos ensina. Deixando de lado tudo o que a mente racional nos diz, o que resta em nosso interior é um grande vazio. Deixando de lado as palavras, o que sobra é silêncio.

Mas este vazio é na realidade um plenum, repleto como está de mensagens secretas. E o silencio é só aparente, pois também ele se encontra repleto de melodias misteriosas.
        
Vazio e silêncio são espaços de que a inspiração necessita para se manifestar. A palavra meditação é usada para significar um exercício de introspecção destinado à eliminação do pensamento racional e sua substituição por uma forma superior de conhecimento que é a inspiração.
        
É um fato, para o qual não existe explicação, que são de má qualidade as ideias que herdamos de nossos ancestrais e as que fazem parte do processo educacional a que submetemos a juventude.
        
O pensamento é um instrumento precioso, desde que usado com moderação. A Verdade não tem limites e se estende além, muito além do alcance da mente racional do homem. Palavras como Razão Superior, Supraconsciente e Planos Transpessoais da Consciência começam a aparecer com frequência cada vez maior nos estudos de psicologia.
        
A verdadeira estatura do homem é muito maior do que supunham tanto o ateu Freud quanto os autores de nossos catecismos e compêndios de moral.
        
Cogito, ergo sum”, “penso, logo existo”. Foi assim que o filósofo francês René Descartes proclamou o início da Era Moderna. O homem moderno se orgulha da boa qualidade dos seus pensamentos. Mas o físico americano David Bohm os considera como poluídos e como parte de uma monumental “fraude”. O mundo verdadeiramente real não é o que os cientistas definem como sendo real. O mundo real dos cientistas está para a Realidade Total como a miragem está para a realidade da paisagem em que se manifesta.
        
Um cientista, imbuído de Fé em Cristo, diria que o futuro da humanidade está para o seu presente como o não-manifesto está para o manifesto. É injusto julgar a humanidade partindo do que seus representantes mais conspícuos realizaram até hoje. A atmosfera de mistério que envolve o futuro da humanidade sempre encantou o espírito da pequena minoria de contemplativos místicos da humanidade. Se quiseres ter uma ideia exata do que o homem é capaz de ser, olha para o que ele ainda não é, mas é capaz de vir a ser.
        
Ninguém apostou mais no futuro da humanidade do que Jesus. Quem insistisse em julgar a obra de Cristo tomando como base e como critério a atuação do cristianismo atual, mais honesto seria afirmar que o essencial de tudo o que Jesus tinha em mente ainda está por acontecer. Reduzir o depósito da fé a um conjunto de doutrinas fazendo caso omisso dos frutos que esta fé já produziu ao longo do tempo na vida de milhões de pessoas, é desconhecer a sua essência.
        
Um cientista, como Einstein, não diria: “Penso, logo existo”. Diria talvez: "Sei que sei cada vez menos, logo existo”. O místico diria: “Admiro este admirável universo, tão belo, que tenho vergonha de tocá-lo”. Nenhum deles usaria a palavra ter, possuir, para definir a sua relação com a Verdade.

Livrar-se da prisão do pensamento puramente racional representa tão somente um passo, o primeiro entre muitos outros. Entre os quais está a contemplação. A palavra vem do latim contemplare e possui a mesma raiz semântica que a palavra templo. A sensação de quem contempla é a de quem entra num santuário ou num templo.

Padre Marcos Bach

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