segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DEGRADAÇÃO HUMANA NÃO CABE A NINGUÉM

Para um homem de mentalidade moderna viver de esmolas é tão inaceitável quanto viver do roubo. O apóstolo Paulo, fabricante de tendas, vangloriava-se de viver do fruto do seu trabalho.
          
Houve época em que viver de esmolas era considerado como demonstração de fé na Providência Divina. Este tempo passou. Hoje não é fácil encontrar quem não concorde com Paulo: “Quem não trabalha não tem direito a comer”.
          
Hoje vivemos uma época atormentada pela falta de empregos. Como convencer um desempregado de que ele não é um mendigo?
          
O trabalho não é apenas uma obrigação e uma necessidade social. É, acima de tudo, um direito. Um direito natural, inerente à própria condição humana.
          
No paraíso socialista sonhado por Marx, o acesso ao mercado de trabalho é tão fundamental quanto o direito à vida. É parte integrante de uma vida humana digna deste nome.
          
Se é verdade que o trabalho dignifica o homem, porque condenar tantos honrados pais de família à mendicância? Quem não tem emprego só pode ter-se na conta de mendigo numa sociedade acostumada a julgar as pessoas a partir do que produzem.
          
Marx nunca foi um trabalhador no sentido usual do termo. Sempre foi o que se pode chamar de “rato de biblioteca”, homem de gabinete. Seu exemplo destoa de tudo o que escreveu. Era um homem de ideias, um tanto alienado do mundo do trabalho tal como o conhece e sofre um operário ou um camponês.

Marx também foi a seu modo um contemplativo: passou os melhores anos da sua vida debruçado sobre a antevisão de um mundo futuro a ser construído. Era um visionário, tanto no bom quanto no mau sentido da palavra.
Basta um olhar bem superficial sobre o panorama do mundo atual para se ter uma ideia do que é um mundo dominado por especuladores calculistas e por materialistas profissionais.
          
O Projeto Messiânico de Marx fracassou. É cômodo tripudiar sobre a desgraça alheia. Marx, Lênin e Stalin tentaram. O fato de não terem tido sucesso pleno não diminui o mérito de terem tido a coragem de tentar.

Marx preocupou-se com o futuro da humanidade. Lutou contra o sistema capitalista porque se convencera de que o capitalismo era simplesmente incompatível com valores fundamentais de uma sociedade humana aberta ao progresso, como justiça social, igualdade de direitos e liberdade civil. Foi ingênuo: a sociedade europeia não estava madura para trocar o que conseguira conquistar, com muito suor e sangue, por um pretenso paraíso social tão utópico quanto a ideia de colonizar a lua.

Moderno, no meu entender, não é apenas aquele que está em dia com o pensamento e a escala de valores do seu tempo. Seria o mesmo que cair no logro de Marx, supondo que a história se encaminha para um ponto ideal. É bom não esquecer que Marx era hegeliano. O “leite” que serviu é o mesmo que alimentou a carreira acadêmica de Hegel. Trocou os sinais, mas ficou fiel aos mesmos parâmetros que nortearam o pensamento de Hegel.
          
Na base da filosofia de Hegel e de Marx está a fé na existência de um mundo anterior e superior a tudo o que o homem esteja em condições de criar e impor por vontade própria. O mundo é dominado por ideias que determinam a história humana muito antes que apareça um Marx, um Lênin ou um Mao Tsé-Tung. Marx diria: “o que determina o futuro histórico da humanidade pouco depende do que os homens pensam, mas depende por completo do que os homens fazem”. Para Marx a história é um conjunto de acontecimentos que apontam um rumo. Só compreende a história aquele que tem a capacidade de perceber o mais contido em cada evento histórico.

Padre Marcos Bach

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