quinta-feira, 20 de novembro de 2014

MARX DESMASCAROU O CAPITALISMO

Marx viu muito bem que uma sociedade submetida às leis do mercado só pode merecer o epíteto de “sociedade pirata”. O mercado é uma abstração ideológica e sua existência não se baseia em argumentos científicos.

O que chamamos de mercado é composto de pessoas. Parte delas quer vender ou trocar. A outra parte compõe-se de consumidores (diríamos hoje). Pessoas que querem comprar, adquirir e entulhar suas casas com produtos cujo valor é altamente perecível. Tanto a moda como o avanço tecnológico funcionam como escavadeiras: limpam o campo de mercadorias obsoletas! Montanhas de computadores já foram parar no lixo porque neste terreno, mais que em muitos outros, vigora a “lei do melhor”. Melhor, ao menos por ora, é o produto que produz mais e dá mais lucro a quem o fabrica e vende.
          
O que Marx, afinal, queria? Queria uma sociedade sem proprietários! Queria uma sociedade baseada no trabalho e não no capital. Como bom judeu, conhecia a Kabala judaica e sabia qual o papel que o trabalho desempenha no campo social. “Quem não trabalha, não come”, dizia o judeu Paulo de Tarso. “A cada um segundo a sua capacidade e de acordo com a sua necessidade”, dizia Marx.
          
Quem quer compreender Marx deve ter em mente que seu propósito era lançar as bases de uma sociedade em que a preocupação pelo material deixasse de ser problema. Enquanto os pais do liberalismo econômico se preocupavam mais com o destino do capital, Marx se preocupou quase que exclusivamente com o futuro dos que só podem contar com o trabalho como instrumento de promoção social e como meio de dar um sentido e uma relativa aura de dignidade à sua existência. Se as Igrejas cristãs da época tivessem tido a capacidade de compreender que o homem é mais importante que as máquinas por ele construídas, hoje a face do mundo talvez fosse outra, bem mais humana.
          
Marx era um homem inteligente e bem intencionado, pobre e sem grandes ambições. No fim da vida chegou à conclusão de que tudo o que escrevera e pregara teria que ser revisto. Morreu sem terminar a obra monumental da sua vida, que é O Capital. Se é verdade, morreu como arrependido tardio. Não teve tempo de refazer o seu itinerário messiânico.
          
Apareceram os Lênins, os Stalins, os Mao Tsé-Tungs e os Pol Pots, que se encarregaram de transformar em trevas o que no pensamento de Marx era luz, aurora e prenúncios de um novo tempo. “Não sou marxista”. Marx mesmo dizia que não era marxista. Acho ridículo prender-se a fórmulas. Ou a dogmas. Marx desmascarou o capitalismo e a falsa noção de liberdade do liberalismo. Fez o que Cristo fez em outra área ao desmascarar a hipocrisia do sistema religioso judaico do seu tempo. Não conseguiu, no entanto, ir além do terreno das boas intenções por não ter dado em seu sistema ao amor o lugar que Cristo lhe reservara.    
          
Rejeitar a contribuição de Marx para o advento de um mundo mais humano não constitui prova de grande inteligência. Menos ainda é prova de grande fé em Deus. O pensamento marxista é muito mais incompleto do que falso. Falta quem se anime a completá-lo, acrescentando-lhe a dimensão do amor que desconhece. É preciso apoiá-lo numa base mais sólida e confiável do que a frágil e lábil consciência da classe proletária.
          
Se Marx se esqueceu de falar no amor, é possivelmente por não crer nele. A sua vida matrimonial foi a mais burguesa e proletária ao mesmo tempo que se pode imaginar. Tinha por propósito delinear as estruturas de uma sociedade justa da qual o amor faria parte. Não se lembrou que a justiça é fruto do amor, ao contrário do que supunha. Pretendeu construir um edifício começando pelo telhado.

Marx nasceu, viveu e morreu burguês. Nem por isso alguém se lembrou de condená-lo. (Na prática) viveu e morreu pobre. Este fato por si só o recomenda como pessoa digna de admiração.

Não é crime nenhum sonhar com uma sociedade rica, cheia de conforto material, desde que esta fartura obedeça a três requisitos fundamentais: primeiro, não impede o coração de aspirar a valores mais altos, que são os valores espirituais. Um belo leito não deve impedir um casal de perceber a diferença que existe entre prazer e conforto dum lado, e amor e felicidade do outro.

Segundo, permanecer consciente de que o problema, se algum há, não está na abundância, mas no excesso. Uns têm demais e por isso é que outros saem de mãos abanando dos nossos “Supermercados”.

Terceiro, usar as coisas, mesmo as que nos pertencem, de acordo com a lei como se nos tivessem sido confiadas em comodato, sob a forma de empréstimo.
          
O conceito cristão de propriedade econômica difere por completo do conceito romano e capitalista. Um judeu ortodoxo comporta-se em relação aos bens materiais como funcionário e gerente de riquezas que não lhe pertencem. Para ele a Terra Prometida e suas riquezas são propriedade de Javé, o Deus de Israel.

Os judeus sempre defenderam com tenacidade indomável a Terra que Javé lhes confiara. Se hoje existe um Estado de Israel, é porque 2.000 anos de exílio e diáspora não foram capazes de apagar da consciência do povo judaico a fé na promessa messiânica feita por Javé a Abraão. A fé nas promessas de Jesus foi a marca registrada das primeiras Comunidades Cristãs.

É importante que a Igreja fale à humanidade a linguagem da fé. Mais importante é que seja para o mundo um sinal e uma garantia de esperança. Sua missão essencial, porém, é ser pregoeira do amor. Quando os papas falam do amor, tem-se a impressão de que para eles o amor é apenas uma obrigação moral, igual a tantas outras. Preferem empregar termos como caridade e solidariedade, em lugar da palavra amor.
          

João da Cruz, Teresa de Ávila e Teresinha falam do amor com o calor e a veemência própria de quem está apaixonado. Não se importam muito em saber se o que pensam e dizem está de acordo com as regras do ensinamento ortodoxo. Dedicam mais fé no amor do que nos ensinamentos da fé. São gigantes da fé na medida em que têm a coragem de subordinar os preceitos da sua fé às exigências do seu amor para com Deus e para com a humanidade toda. 
Padre Marcos Bach

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