terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A MORTE DE UMA CIVILIZAÇÃO

Se fôssemos governados por homens dispostos a interpretar a história como todo bom aluno interpreta as lições do seu mestre, teríamos hoje uma perspectiva menos sombria em relação ao futuro desta nossa civilização.
        
Toda civilização tem um início, um clímax e um fim. Seu início coincide com o fim de outra em relação à qual ela representa o que hoje chamamos de Ponto de Mutação. Definimos com este nome o momento em que a continuidade linear é interrompida e as pessoas que tomam consciência da ruptura em curso põem-se a olhar em outra direção e passam a se relacionar entre si e com o mundo de modo radicalmente diferente.
        
Toda civilização representa em seu início uma novidade só aceita por uns poucos. Seus pioneiros são perseguidos e tratados como criminosos. Só lentamente o novo modo de pensar, de viver a vida consegue impor-se. Raramente o consegue sem o auxílio da espada, do campo de concentração e da força.
        
O clímax de uma civilização que atinge a ideia mestra (o ideal) a que deve sua origem, alcança o máximo de fecundidade institucional, política, moral e cultural. Roma atingiu este estágio evolutivo quando ainda era uma pequena e modesta república. O clímax da civilização grega coincide com a época de Péricles, época áurea da cultura grega.
        
O que faz de uma civilização um cenário culturalmente positivo são os valores humanos que promove. Liberdade pessoal, formação intelectual, boa saúde, segurança social, velhice tranquila, morte digna e mesa farta são valores que todo povo civilizado deveria defender com a mesma fé e determinação com que um fundamentalista fanático defende sua fé.
        
A morte de uma civilização acontece quando a parcela majoritária da população perde a fé nos valores que estiveram presentes na hora do parto de sua civilização. Majoritária, sob todos os aspectos, é a parcela jovem de um organismo social.

Podemos classificar como membros do mundo jovem todos aqueles que mantêm sua mente aberta a toda e qualquer novidade. Alguém será tão adulto quanto for capaz de distinguir o que deve ser substituído do que ainda é válido. Mas isto não basta: mais importante é saber o que colocar em seu lugar. Discernimento chama-se a esta faculdade tão importante para o bom andamento da vida humana. O computador pode ser útil sob muitos aspectos. No entanto, é incapaz de substituir a consciência do homem.
        
Prudência e sabedoria são palavras que dizem a mesma coisa que discernimento. O autêntico sábio não se contenta com distinguir as coisas de forma correta. É mais do que simples teórico, é homem de ação, acima de tudo. Inácio de Loyola, Teresa de Jesus, Gandhi, entre tantos outros, eram pessoas empenhadas em promover transformações de natureza social e política.

Padre Marcos Bach

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