sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

REPROGRAMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
        
Uma instituição religiosa que não persegue como prioridade a abertura de espaços novos e de facilitar à consciência de seus filiados o acesso a planos mais elaborados de fé e de experiência de Deus, faria bem em declarar falência.        

Em toda parte os líderes mais responsáveis estão se unindo na procura de soluções. Quanto mais “fiel” for à sua Igreja, tanto mais dificuldade encontrará pela frente o católico que não quiser “fugir à história”. Sua formação religiosa e moral não lhe permitirão passos muito ousados. Terá muita dificuldade na hora de romper com hábitos contraídos ao longo de lustros de lavagem cerebral. E de domesticação moral. Mas os piores obstáculos são os que se encontram em seu próprio interior. A tirania do superego, aliada ao medo de perder sua alma caso não permanecer fiel ao que lhe foi ensinado, são dois dos fatores que mais se opõem ao processo de reestruturação e reprogramação dos conteúdos da consciência.
        
Antes de partir para a reprogramação da consciência é preciso partir para a sua desprogramação, pois tanto o novo código de valores quanto a sua “tradução” da teoria para a prática pertencem a categorias diferentes e até certo ponto contraditórias. Quem usa duas réguas diferentes, acabará obtendo como resultado duas medidas diferentes.
        
A consciência humana é uma totalidade heterogênea e seus diversos “departamentos” ou planos não falam a mesma linguagem. Desprogramar a consciência implica na necessidade de aprender a se expressar numa nova língua. Um místico, como São João da Cruz ou Mestre Eckhart, não se expressa do mesmo modo e nos mesmos termos com que o faz um professor de teologia.
        
O processo de desprogramação a que me refiro não é nem simples, nem inofensivo, pois termina por deixar sem pai nem mãe, órfão da mais dolorosa das orfandades, aos que a ele se entregam.
        
Há um período na vida de uma pessoa normal em que um sentimento misterioso de insatisfação começa a se manifestar. A época coincide com o advento dos assim chamados “demônios do meio dia”.
        
Lá pelos anos 50 o termo “angústia existencial” entrou na moda. A existência humana é um rosário de absurdos. É tempo perdido oferecer a um homem a felicidade com que sonha em seu íntimo. Dê-lhe tudo o que pede e ainda te acusará de lhe ter dado tudo, menos o essencial. O que é este essencial sem o qual homem algum se dá por satisfeito?
        
Para ter uma noção do que é essencial para manter a boa saúde de um corpo, é necessária uma mesa farta e bem posta. É experimentando um prato depois do outro que será possível descobrir o alimento que melhor condiz com as exigências e as necessidades do meu corpo. O mesmo deveria valer também para as necessidades espirituais do homem. É neste campo que a abundância de mestres, de receitas e de pratos é maior atualmente e mais variada do que em outra época qualquer da história.
        
Pastores, amigos do redil, da invernada e do brete são os que menos simpatizam com a realidade nova para a qual começa a despertar um número cada vez maior de cristãos. Quem quer acordar no sentido que Jesus deu a este passo, deve ter consciência de que passará a complicar-se, antes de mais nada, com a sua própria Igreja. Igreja nenhuma está preparada para aceitar como ortodoxas atitudes que exigem de seus crentes a renúncia a toda uma tradição baseada na lei da inércia.
        
Entregar a salvação da sua alma a homens que só conseguem expressar o Amor de Deus na linguagem da Lei e do Dogma é muito mais arriscado e imprudente do que fazer da sua fé em Cristo um ato de absoluta confiança e entrega pessoal ao amor de Cristo. Um cristão deveria ser o primeiro a ensinar a seus irmãos que o caminho da salvação é simples e não depende da intermediação de “pistolões”.
        
O caminho que conduz do terceiro para o quarto nível de consciência em nada se parece com o que um caminhoneiro costuma encontrar pela frente. Lá uma rodovia é igual à outra. No campo do progresso espiritual tudo é diferente. Lá o “motorista” se vê, a certa altura, na obrigação de mudar de estrada. E de mudar de velocidade! Numa boa autoestrada a velocidade mínima deixa de ser a mesma de um caminho de roça.

Padre Marcos Bach

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