quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A CONSCIÊNCIA COMO ESTÍMULO

Uma formulação sintética das funções e papéis específicos da consciência poderia ser a seguinte: cabe-lhe a tarefa de estimular, orientar, criticar e integrar.

Analisemos o poder do estímulo.
Não há quem não conheça a força e o poder do estímulo. Sem ele e a resposta que provoca, não haveria no mundo mais que inércia.

Na biosfera é o estímulo que determina a resposta. No plano moral humano esta lei não vigora com a mesma precisão férrea. Estímulo e resposta não se equilibram. E a equação nunca é matematicamente perfeita. Daí se pode concluir que a ética não é uma espécie de “matemática do bem”.

O comportamento do homem oferece uma “margem de indefinição” e um “coeficiente de improvisação, que a física atômica registra, com surpresa crescente, na esfera do universo subatômico.

A causalidade e a coerência matemática são insuficientes para explicitar a estrutura global do universo, onde o acaso determina os movimentos cósmicos com o mesmo direito que atribuímos à necessidade. Faz bem aquele que hoje insiste em distinguir a lei física (da conservação) da lei moral (do crescimento).

O estímulo moral da consciência não é de natureza causal eficiente, mas finalístico. A resposta moral dada à interpelação da consciência não está contida numa espécie de causa preexistente. O ato moral não é produto da consciência ou da vontade, mas é uma criação dela. São as opções morais que alimentam e desenvolvem a consciência, e, em certo sentido, a criam e amplificam a sua ressonância social. Não são as estruturas sociais que modificam e ampliam o horizonte da consciência, mas é o modo como a pessoa faz uso dela.

O pensamento marxista trata, em geral, o fator estímulo com a mesma displicência metafísica com que o faz a moral tradicional. Esta última se ocupa muito pouco com a “moralidade” do espírito moral. Aceita como válidas motivações inspiradas no medo (do castigo) e no interesse (prêmio), esquecendo-se de que este tipo de motivação pertence a níveis subumanos de consciência.

Estímulo é aqui, neste contexto, mais do que a espora que risca o flanco do cavalo. Estímulo é sempre um bem, um valor, que interpela a consciência, mobilizando a sua criatividade. É um valor denso de promessas e carregado de esperança. É, portanto, impregnado de energia, de poder de aliciamento e sedução. Onde falta esta carga energética o motivo perde o seu sentido moral e passa a não ser mais que uma simples norma, uma boia que limita o canal de navegação. É muito, e, no entanto, é pouco, quando se tem em vista a amplitude de empreitada que é a existência de um ser dotado de consciência, como é o homem.

Padre Marcos Bach

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