quarta-feira, 22 de abril de 2015

O CONCEITO DE DEUS ATRAVÉS DA HISTÓRIA

“Tudo o que disserdes a respeito de Deus será mais falso que verdadeiro”.

A palavra Deus vem do sânscrito, uma língua antiga da Índia. De Dyaus Pitar originaram-se os termos Deus. Zeus e a palavra patér, em grego e o termo latino pater.

Desde sua origem o conceito de Deus vem associado ao de pai e a tudo o que numa cultura eminentemente patriarcal vem associado à palavra pai: autoridade, poder, hegemonia social.

Zeus, o mitológico pai dos deuses gregos, podia permitir-se atitudes e comportamentos que um simples mortal não podia adotar sem ferir leis fundamentais da ordem moral. “Quod licet Jovi, non licet bovi”, dizia um ditado romano. O que Júpiter pode permitir-se não é o mesmo que é permitido a um boi.
        
O símbolo de Júpiter é o Touro, bos, em latim. Era o Touro Sagrado, o pai supremo dos deuses, o único Senhor isento da obrigação de se submeter a limitações de natureza moral. Os mais destacados dentre os deuses do panteon greco-romano são filhos bastardos de Júpiter.
        
Quem quer entender em toda a sua extensão o esforço moralizador do cristianismo não pode ignorar o fato de que ele é hoje menos fruto da consciência religiosa de homens do deserto do que herdeiro religioso da civilização greco-romana.

Deus pode o que os humanos não podem! Júpiter pode permitir-se liberdades morais que são vedadas aos homens!
        
A superioridade de Deus está em que Ele pode o que os homens não só não podem, mas é lhes proibido poder. Só Deus pode fazer milagres, diziam os adversários de Jesus. Ao que Jesus respondeu: “Tudo o que Eu fiz, vós também podeis fazer”!
        
Jesus não veio a mandado do Pai com a missão de circunscrever a liberdade dos homens, impondo-lhes novos limites. Seu conflito com a cúpula religiosa do seu povo tinha como eixo a relação dialética que opõe entre si a Lei e a Ordem Estabelecida dum lado, e do outro, a Liberdade dos Filhos de Deus.
        
Jesus entrou na história dos homens como aquele que tomou o partido dos homens em detrimento de conceitos religiosos mais propícios à manutenção de regimes teocráticos do que a expansão democrática da liberdade do próprio Deus. O Deus de Jesus não cabe em conceitos e imagens. Não é Senhor amarrado a papéis e funções, obrigado a submeter-se a determinismos e a leis que Ele mesmo criou.
        
A evolução do pensamento religioso em geral, depende em boa parte da consciência que a humanidade tiver de si própria. E esta, por sua vez, depende do conhecimento que tiverem do universo, da sua extensão como da sua complexidade. Até data recente o universo era aos olhos dos astrônomos o que a luneta de Galileu lhes permitia ver. Da noção de um universo acanhado de apenas 6.000 astros brotou um tipo de humildade que é o oposto não só da autêntica humildade cristã, mas também da modéstia típica de todo grande cientista. Werner Von Braun, numa conferência proferida em Frankfurt na Alemanha, a chamou de “a humildade do astronauta”.
        
Desde os tempos de Newton e Descartes até hoje, encontra-se em curso no campo teológico uma revolução de proporções “copernicanas”. Quem hoje fala de Deus como o fizeram Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino ou como fizeram Descartes, Leibniz e Newton, todos eles cristãos crentes, deveria revestir-se da mesma humildade e modéstia que professa todo grande cientista da atualidade. Em termos de conhecimento do cosmo e da estrutura da matéria estamos apenas tateando o chão à procura de um solo mais firme e confiável que aquele que as religiões nos oferecem. No terreno do conhecimento do universo estamos assistindo aos capítulos iniciais de uma história da qual o momento atual é parte de sua fase pré-histórica.

Padre Marcos Bach

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