quarta-feira, 10 de junho de 2015

A REALIDADE MAIOR

Nós, ocidentais, achamos que real é só aquilo que os sentidos e a razão nos revelam. Orgulhamos-nos enormemente de nossa ciência e de nossa filosofia.

Os místicos sempre e em toda a parte ensinaram que a Realidade é outra e que para entrar em contato com ela é preciso ultrapassar os limites impostos pelos sentidos e pela razão.

Cientistas e filósofos só conseguem atingir aspectos periféricos de Realidade Total, embora alimentem a convicção contrária. Só muito lentamente os tradicionais “donos da verdade” (cientistas, filósofos, teólogos) começam a se dar conta de que a Realidade é muito maior do que a capacidade humana de apreendê-la.

Esta incapacidade não é, porém, ontológica, mas condicionada por fatores históricos. Se o interior de cada ser humano possui as dimensões do próprio Universo, como sustentam os místicos, então a incapacidade de apreender o Universo em sua totalidade é apenas passageira e provisória.

A identidade total e plena da mente com o universo, embora não seja para a grande maioria mais do que um horizonte e um horizonte por demais distante para merecer algum esforço sério e bem planejado, contudo não deixa de ser um referencial para quem quer medir o grau de desenvolvimento de sua consciência.

Uma consciência em evolução tende a expandir-se no espaço-tempo, tomando conhecimento de novos aspectos de um Universo em que ser e relacionar-se passam a ser sinônimos.

O espaço psíquico criado pela expansão da consciência não é vazio, embora os místicos o definam assim. Só é Noite Escura na aparência. É vazio para os sentidos e escuro para a razão, mas não o é para a consciência.

A iluminação interior proporcionada pelo poder visionário só acontece depois que as pequeninas luzes, com que os sentidos e a razão iluminam nosso caminho, tiverem sido ofuscados por uma nova e infinitamente mais potente fonte de luz, que é a consciência.
          
Quem quer medir o nível de consciência de uma pessoa deve tomar como critério básico a sua capacidade de dirigir-se por si mesma.

Em seu nível mais rudimentar esta capacidade se manifesta como instinto e como determinismo psicológico.  O instinto determina um modo automático de comportamento. Fornece a um grupo da mesma espécie uma base comum de ação, geneticamente assegurada. O caráter coletivo do comportamento inspirado pelo instinto garante a ordem dentro de um bando. Cada novo membro já nasce trazendo impresso em seu cérebro o conhecimento necessário à sua sobrevivência e à da espécie, em geral. Não necessita de longo aprendizado. Não se defronta com os problemas ligados à necessidade de ter que escolher.

Numa sociedade dominada por processos instintivos, as escolhas são poucas. O instinto tem a vantagem de oferecer uma base de relações sociais segura e confiável. Traz em seu bojo, porém, uma grande desvantagem: por ser rígido e voltado numa única direção, torna praticamente impossível a mudança de comportamento que uma situação nova e inesperada vier porventura a exigir. O instinto faz de certos animais prisioneiros de um determinado habitat. O mesmo vale para um agrupamento humano de nível análogo.
          
O excesso de segurança e de ordem gera como contrapartida a falta de flexibilidade e a incapacidade de acompanhar o ritmo do tempo histórico, quando este se acelera.

A história não é um trem que fica à espera dos retardatários. A Evolução tem pressa. Isto vale de modo todo particular para épocas que precedem às grandes transformações. Nós vivemos numa dessas épocas. Não nos defrontamos apenas com os estragos causados por uma civilização escancaradamente voraz e predatória. Estes só por si são mais que suficientes para impor à humanidade um novo tipo de consciência e um modo radicalmente diferente de se relacionar com a natureza.

Padre Marcos Bach

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