quarta-feira, 8 de julho de 2015

À ALTURA DA LIBERDADE INTERIOR

O homem é um ser inacabado. A palavra imperfeito tem este significado. Não é uma “construção falha”, um intruso num mundo que sem ele seria perfeito. É verdade que sem ele o “pecado” não teria entrado no mundo. Mas também é verdade que sem ele o pensamento, o amor, a paixão e a liberdade continuariam tão ausentes do nosso planeta quanto na época dos dinossauros.
        
“O homem é um ser condenado a ser livre”, dizia Sartre. Sartre era ateu e não via sentido nem no mundo nem na vida humana.
        
O maior risco em tudo, quem o correu, foi Deus quando decidiu dar ao homem uma liberdade semelhante à sua, liberdade sem limites claramente definidos. Em lugar de conceder o privilégio da liberdade a uns poucos capazes de usá-la corretamente, deu-a a indivíduos totalmente irresponsáveis. Se o Criador tivesse reservado o dom da liberdade a uma elite moral e com ela o direito de administrar a dos demais, tudo andaria bem melhor. Como o Criador não o fez, os melhores (os Aristói) dentre os homens, sacerdotes e sábios, tomaram a peito a tarefa de fazê-lo. Criaram a tarefa de fazê-lo. Criaram o Direito e a Moral. E para legitimar sua política inventaram a religião, atribuindo a uma autoridade superior a obra do seu engenho político.
        
Por mais que queiramos esconder o fato, a verdade pode muito bem ser esta: “Direito, Moral e Religião só podem ser entendidos quando encarados como instrumentos de dominação. O exercício do poder não sofre restrições. O ideal é o poder absoluto. O exercício da autoridade não oferece perigos sérios. Perigos sem fim rondam, no entanto, o exercício da liberdade quando este escapa ao controle dos representantes do poder e da ordem estabelecida”.
        
Nossos governantes têm mais medo da liberdade que da sua ordem pretensamente estabelecida por Deus ou por alguma autoridade superior. O mundo em que vivemos é um mundo em que pessoas verdadeiramente livres não são vistas com bons olhos. A maioria dos nossos chefões preferiria cercar-se de um cordão de robôs, sempre prontos a bater palmas à passagem do seu grande líder.
        
O mundo que nos cerca não ama a liberdade. Procure pensar com a própria cabeça para ver em que vai dar esta sua ousadia. Podemos pensar e é bom que o façamos, desde que este nosso pensamento não venha a chocar-se com o pensamento ortodoxo. O essencial já foi pensado. A fé religiosa consiste em pensar como Deus pensa. E cada religião sabe melhor que as outras o que Deus pensa. O homem bom é aquele que quer o mesmo que Deus quer. Quem faz a vontade de Deus em tudo, é mais do que bom, é melhor, é santo. Como Deus é monossilábico e quando fala o faz por meio de parábolas, a elite humana, (os aristói), tomaram a si a tarefa de nos dizer o que o Criador pensa, quer, aprova e desaprova.
        
As instituições que se apresentam como promotoras do progresso humano têm como finalidade primária cuidar do bem comum. O bem particular de cada indivíduo pertence à outra esfera política, não só distinta, mas em boa parte oposta a ela, que é a chamada “iniciativa particular”.

Padre Marcos Bach

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