quarta-feira, 1 de julho de 2015

PLASMAR SEU PRÓPRIO PERFIL

Numa pequena comunidade, suficientemente autônoma para plasmar o seu próprio perfil, torna-se possível o que em contexto social mais amplo é simplesmente impossível.
        
Num ambiente onde todos se conhecem é mais fácil sentir-se valorizado como pessoa, e não apenas visto como número. Bom pastor é aquele que caminha à frente de suas ovelhas e conhece a todas pelo nome (Jo cap. 10).
        
Pastores não nos faltam. Faltam-nos, porém, pastores que avancem mais e mais depressa que suas ovelhas. Maus pastores já os havia muito antes. O mau pastor é aquele que se interessa mais pela lã delas do que por suas ovelhas. Mau pastor é aquele que obriga suas ovelhas a se contentarem com pastagens rapadas. Ele, o mau pastor, obriga suas ovelhas a rapar sempre de novo o mesmo pasto porque tem medo de levá-las a se afastarem da cerca protetora do redil.

Sob a alegação de que está cuidando da segurança de suas ovelhas, o mau pastor as mantém distantes de pastagens que considera perigosas. É ele que decide sobre o que é bom para as ovelhas ou não. Estas, justamente por serem ovelhas, não sabem, nem podem saber o que é melhor para elas. As ovelhas são inteligentes e sabem distinguir muito bem a voz de um autêntico pastor da de um estranho.
        
Bom pastor é aquele que adota cada ovelha como se fosse filha sua. Suas ovelhas todas têm nome. Se existem maus pastores, também é verdade que existem más ovelhas. O fato do número delas ser muito maior do que o dos maus pastores, não prova nada, a não ser a inviabilidade de um sistema religioso-eclesial incapaz de admitir que continua vivo por obra de mentiras e incoerências.
        
A Igreja católica já teria desaparecido não fosse a capacidade política de seus dirigentes de vender gato por lebre. O papa faz questão de se apresentar sempre como sucessor de Pedro e representante de Cristo na terra. Cristo, porém, nunca manifestou a intenção de dar um sucessor a Pedro. Representante de Cristo na terra é toda Comunidade de Fé, onde todos se amam como Jesus amou.
        
Comunidades fracas, compostas de membros privados de poder e sem iniciativa, dirigidas, porém, por homens dotados de poder absoluto: este é o quadro que a Igreja católica oferece ao mundo contemporâneo.
        
Para ser verdadeiro discípulo de Cristo não basta pertencer a uma Igreja cristã. Quem se contenta com satisfazer as exigências mínimas de uma Igreja, não merece que o chamem de cristão. Também não merece o título quem se contenta com submeter sua conduta exterior às exigências desta Igreja.
        
Há exigências associadas à fé em Cristo que não podem ser regulamentadas e impostas por lei, à maneira de jugo ou de fardo. A fé em Cristo encarna uma forma de liberdade espiritual que o homem sem esta fé não possui. O “homem carnal” (como o chama Paulo) terá que converter-se da sua condição de escravo da carne e dos desejos dela, se quiser pertencer a uma Comunidade Cristã.
        
Carnal e escrava de seus próprios desejos mais rasteiros é a pessoa que passa mais tempo preocupada com suas necessidades materiais do que com as da sua alma. Aquele que só se lembra da sua alma quando consegue um “tempinho” para isso, não merece lugar no seio de uma Comunidade que queira coisa bem diferente do que aparentar o que na realidade não é.
        
Uma Comunidade Cristã autêntica é composta de pessoas que destoam por completo do modo de pensar e de agir das pessoas que povoam o chamado mundo dos negócios.
        
Do “Santo” budista, o Arhat, se pode dizer que ele é simplesmente impossível, tal é o nível de consciência que dele é exigido. O mesmo se pode afirmar a respeito do cristão verdadeiramente perfeito. Na prática só existe como “ideal” e não como pessoa “real”.

Padre Marcos Bach

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