A FAMÍLIA NECESSITA DE LIBERTAÇÃO
É preciso tirar a família da atmosfera
pragmático-utilitária que a está sufocando. A família não se destina a produzir
resultados contábeis. Não persegue fins, mas se destina a revelar significados.
Possui caráter simbólico, pois é sinal, sinal sacramental de uma realidade
maior, mais ampla. Este mundo maior do qual é sinal visível, não é nem a nação,
nem a Igreja. Temos que situá-la num plano muito mais abrangente, mais próximo
do universo dos valores absolutos.
“O Universo está-se expandindo”. É o que nos dizem os
astrofísicos. Ora, se é assim, então seus componentes também se encontram em expansão. Logo, também a família tende a
se expandir, exigindo mais espaço na medida em que o tempo passa. Manter uma
família é hoje um verdadeiro sufoco.
A de pensar em como libertar a vida familiar das muitas
teias e peias que a prendem, é necessário analisar em profundidade as causas
deste sufoco.
Um primeiro empecilho a ser enfrentado é a falta de vontade
política e a coragem de chamar os “bois” pelo nome. Nenhuma instituição social
seja ela política, cultural ou religiosa, se dispõe a admitir sua parcela de culpa na situação. Seus porta-vozes não admitem que a situação da
família seja tão desastrosa quanto dão a entender as estatísticas. Basta
verificar os números para chegar à
conclusão de que é preciso pensar em fazer mudanças, mudanças profundas,
capazes de abalar a estrutura e até a própria base cultural do atual conceito
de família. À crença ingênua de que estas mudanças vão ocorrer à revelia do
homem e de sua disposição de operá-las, é preciso opor, não apenas outra
crença, mas uma atitude de fé, como a
que Jesus exigia de seus discípulos. O homem crente transfere à competência de
terceiros o que na verdade é de sua responsabilidade pessoal. Também no terreno
político-moral existe o fenômeno da terceirização.
No campo religioso católico o fenômeno se manifesta na
tendência a convocar leigos e até mulheres para exercerem funções antes
reservadas a sacerdotes.
Atribuindo à autoridade dos pais sobre os filhos uma origem
divina, esta passa a ser exercida em nome de Deus e sob a jurisdição da Igreja,
representada no caso por sua classe dirigente. A autoridade dos pais é de
inspiração divina, não resta dúvida, mas seu exercício não pode ser
terceirizado, isto é, não passa pela jurisdição e intermediação da Igreja ou de
outra entidade religiosa qualquer.
Não são os padres que têm o encargo de dizer aos casados
como desempenhar a sua vocação de pais e mães. Pelo contrário, são eles, os
pais, que têm o encargo de “encarnar”, não só a autoridade, mas, antes de tudo,
o Amor de Deus. O casamento é muito
mais do que um simples contrato social.
A simples definição do quadro jurídico-moral através da distribuição de
direitos e deveres passa ao largo do essencial.
Padre Marcos Bach
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