quarta-feira, 16 de setembro de 2015


A FAMÍLIA NECESSITA DE LIBERTAÇÃO


É preciso tirar a família da atmosfera pragmático-utilitária que a está sufocando. A família não se destina a produzir resultados contábeis. Não persegue fins, mas se destina a revelar significados. Possui caráter simbólico, pois é sinal, sinal sacramental de uma realidade maior, mais ampla. Este mundo maior do qual é sinal visível, não é nem a nação, nem a Igreja. Temos que situá-la num plano muito mais abrangente, mais próximo do universo dos valores absolutos.

“O Universo está-se expandindo”. É o que nos dizem os astrofísicos. Ora, se é assim, então seus componentes também se encontram em expansão. Logo, também a família tende a se expandir, exigindo mais espaço na medida em que o tempo passa. Manter uma família é hoje um verdadeiro sufoco.

A de pensar em como libertar a vida familiar das muitas teias e peias que a prendem, é necessário analisar em profundidade as causas deste sufoco.

Um primeiro empecilho a ser enfrentado é a falta de vontade política e a coragem de chamar os “bois” pelo nome. Nenhuma instituição social seja ela política, cultural ou religiosa, se dispõe a admitir sua parcela de culpa na situação. Seus porta-vozes não admitem que a situação da família seja tão desastrosa quanto dão a entender as estatísticas. Basta verificar os números para chegar à conclusão de que é preciso pensar em fazer mudanças, mudanças profundas, capazes de abalar a estrutura e até a própria base cultural do atual conceito de família. À crença ingênua de que estas mudanças vão ocorrer à revelia do homem e de sua disposição de operá-las, é preciso opor, não apenas outra crença, mas uma atitude de , como a que Jesus exigia de seus discípulos. O homem crente transfere à competência de terceiros o que na verdade é de sua responsabilidade pessoal. Também no terreno político-moral existe o fenômeno da terceirização.

No campo religioso católico o fenômeno se manifesta na tendência a convocar leigos e até mulheres para exercerem funções antes reservadas a sacerdotes.

Atribuindo à autoridade dos pais sobre os filhos uma origem divina, esta passa a ser exercida em nome de Deus e sob a jurisdição da Igreja, representada no caso por sua classe dirigente. A autoridade dos pais é de inspiração divina, não resta dúvida, mas seu exercício não pode ser terceirizado, isto é, não passa pela jurisdição e intermediação da Igreja ou de outra entidade religiosa qualquer.

Não são os padres que têm o encargo de dizer aos casados como desempenhar a sua vocação de pais e mães. Pelo contrário, são eles, os pais, que têm o encargo de “encarnar”, não só a autoridade, mas, antes de tudo, o Amor de Deus. O casamento é muito mais do que um simples contrato social. A simples definição do quadro jurídico-moral através da distribuição de direitos e deveres passa ao largo do essencial.

Padre Marcos Bach

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