quarta-feira, 28 de outubro de 2015


MORTE E VIDA


Pessoas que tiveram morte clínica e passaram pela “Experiência de Quase Morte” narram que tiveram que responder à pergunta feita por um Ser de Luz: “Que Fizeste da Tua Vida?”

Responder a esta pergunta fora fácil porque tinham acabado de ver sua vida inteira numa espécie de filme o que lhes permitiu distinguir, sem possibilidade de engano ou erro o que nela fora positivo e o que não o fora. Ninguém mencionou algo que se pudesse definir como julgamento. Parece que na hora final cada qual é convidado a fazer seu próprio julgamento.

Ao iniciar sua vida todo ser vivo é incumbido da tarefa de construir-se a si mesmo. Dois biólogos chilenos, Maturana e Varela, deram a esta tarefa o nome de autopoiese. Assim como um poeta usa palavras para construir sua poesia, do mesmo modo cada ser vivo usa células para edificar um novo representante de sua espécie, semelhante a si mesmo.

Como, porém, pode um punhado de células embrionárias ter uma ideia do que é preciso inventar para edificar um ser tão complexo, com órgãos tão diversificados, como é todo ser vivo?

Um engenheiro trabalha com um olho na obra em andamento e o outro na planta. Bom arquiteto é aquele que obedece a uma planta que consegue visualizar antecipadamente o que está por nascer como fruto do seu trabalho.

Bom arquiteto é aquele que sabe usar pedras e tábuas como o poeta usa palavras e rimas. A curvatura de um arco é tão importante quanto à cadência de um verso.

Ao enterrar um morto tiramos de circulação tão somente o seu cadáver, nada mais do que o invólucro mortal é entregue à destruição. Tudo o que faz parte de seu Eu Superior o falecido levou consigo. O que acontece depois é tema de especulação, pois são escassas as informações que possuímos.

Ainda alguns decênios atrás se podia dizer: “Nada sabemos, pois ninguém voltou para contar”.

Mas hoje aumentou significativamente a possibilidade de trazer de volta à vida pessoas que os médicos já tinham declarado mortas.

A morte clínica não encerra o processo de morrer. Isto só ocorre quando o cérebro deixa de funcionar. A verdadeira morte é a morte cerebral. E esta geralmente só ocorre após a morte clínica.

Deste modo o moribundo tem tempo para fazer uma avaliação da sua vida toda, e caso lhe for aconselhado por misteriosos seres de luz, poderá retornar ao corpo que acabara de abandonar. Este retorno é penoso e sofrido.

A morte continua sendo um enigma e seus estágios derradeiros continuam sendo uma incógnita.

Viver para os romanos era o mesmo que estar entre os homens, “inter homines esse”. Morrer significava para eles deixar o convívio humano.

No entanto, faz parte das verdades básicas da fé cristã a crença na comunhão dos santos. A morte abre espaço para novas e inusitadas formas de convívio e de comunicação.

Para que duas pessoas possam se comunicar desembaraçadamente entre si é preciso que possuam em comum o mesmo nível de consciência. “Simile simili gaudet” diziam os romanos, “igual atrai igual”, dizemos nós.

Padre Marcos Bach

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