quarta-feira, 9 de outubro de 2013

AS POTENCIALIDADES DA NATUREZA ESPIRITUAL

“Minha verdadeira casa paterna é o Céu”, dizia Teresinha de Lisieux. Sentindo a morte próxima, São João da Cruz pediu que lhe lessem passagens do Cântico dos Cânticos.

O êxtase resultante da visão antecipada da glória de Deus, do gozo antecipado da união amorosa da alma com seu Deus, representa a marca registrada da autêntica vida cristã. O cristão é por vocação e por opção pessoal uma pessoa que sabe amar e alegrar-se como ninguém.

Uma comunidade cristã é formada por pessoas que sabem amar como Jesus ama e que sabem explorar as grandes e pequenas alegrias que a vida oferece tão generosamente. A autêntica comunidade cristã é formada por pessoas que vivem com os pés no chão, mas com a cabeça bem erguida. Um cristão não foge deste mundo e não abandona este vale de misérias e de lágrimas. Chora com os que choram, mas sabe que lágrimas brotadas do desespero e da comiseração podem ser tão estéreis (e até mesmo hipócritas) quanto o sofrimento que as provoca. A maior parte do sofrimento é produzida pelos próprios homens. Há os que sentem prazer em infligir sofrimento a outros. São os sádicos e torturadores profissionais. Bem mais numeroso é o time dos que se fazem sofrer a si próprios. Todo viciado é especialista na autopunição.

Quanto tempo e boa fé é gasta com o propósito de recuperar viciados em droga! Um viciado em droga ou sexo nunca mais poderá voltar a ser o mesmo que já foi. A palavra recuperação é pobre demais para expressar tudo o que é necessário para que um dependente volte a ser novamente uma pessoa normal. Só uma verdadeira conversão é capaz de operar este milagre.

A exploração plena de todas as potencialidades da natureza espiritual do homem é empreitada que excede por completo a capacidade ou competência natural do homem. É necessário que alguém o tome pela mão e o conduza. Que alguém o tome nos braços e o leve aonde com suas próprias forças não consegue chegar. A genuína conversão no sentido em que Cristo emprega o termo (Mt 18,3), é obra de Deus e dom divino. Representa uma reviravolta total: “O velho homem”, diria Paulo, “terá que morrer para que o novo homem possa nascer”.
Todo parto é doloroso. Também este que dá origem ao “Novo Homem”  idealizado por Cristo, é acompanhado de sofrimento. Que o digam os profetas e os místicos!

Se a Igreja quiser recuperar a credibilidade perdida, não basta reconhecer que pecou e que errou. Em outras palavras: uma simples conversão moral, por mais sincera que venha a ser, não basta. É preciso pensar numa outra Igreja, mais parecida com a dos Apóstolos de Cristo. Uma Igreja radicada na alma do povo. Uma Igreja tão pobre que possa permitir-se o luxo de dispensar toda e qualquer segurança que não seja a do pobre.

Uma Igreja pobre estaria a salvo de quase todas as tentações a que a Igreja dos papas sucumbiu ao longo de sua história. Rico é aquele que muito tem a perder. Pobre é alguém que não tem nada que lhe possam roubar. Miserável é aquele que precisa roubar para sobreviver.

A pobreza de que estamos falando encontra-se no meio do caminho entre a riqueza e a miséria. É a pobreza de espírito a qual Jesus se refere no Sermão da Montanha. “Felizes os pobres de espírito...” (Lc 6,20). Toda pessoa sensata sabe que possuir mais que o necessário a uma vida confortável costuma gerar mais problemas do que alegrias. Nem o ricaço nem o miserável sabem o que é ser feliz. Ambos dormem mal. Um porque não tem o que comer. O outro porque não sabe como proteger sua fortuna contra a ação pirata do capital especulativo.

In: “A Igreja que eu Amo” Pe. Marcos Bach, sj – Ed. própria.

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