quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DIVERSOS SÃO OS RETRATOS DE DEUS

A distância que separa o cientista moderno do de cem anos atrás é a que separa um teólogo do passado da figura eminentemente profética que o futuro está a exigir. Profeta é aquele que aposta no que ainda resta por vir, mais do que naquilo que já aconteceu. O cabedal de verdades e de experiências aproveitáveis, contidas na Tradição, é pequeno. Quem quer aprender algo de essencial não pode contentar-se com folhar Escrituras e reviver Tradições.

No terreno da pesquisa científica há muito que já não existe mais lugar para a continuação tirânica do Mesmo. Cientistas têm a liberdade de se relacionarem com a realidade de um modo que religião alguma confere a seus teólogos.

Hoje a figura do teólogo praticamente desapareceu do cenário cultural. Isso não significa que a teologia como tal tenha perdido sua razão de ser e sua importância. Deus não está morto. Continua vivo no pensamento e nas interrogações dos mais proeminentes mestres do pensamento científico moderno.

A diferença que separa o pensamento teológico religioso do pensamento teológico secular é esta: as religiões oferecem à fé de seus fiéis um conhecimento de Deus bem definido e pronto para consumo. Maometanos, judeus e cristãos encontram em seus “catecismos” um retrato completo de Deus. Ao crente só lhe cabe fechar os olhos e acreditar cegamente.

Um retrato ou imagem pode ser retocada e adaptada ao gosto do “freguês”. Quem não percebe que Javé, Alá e o Deus dos cruzados são retratos cuidadosamente retocados? Não há imagem que se preste tão bem a retoques e falsificações do que a figura de Deus. Dizer que no mundo religioso só existem homens totalmente honestos e motivados em suas decisões exclusivamente pelo amor à verdade, é esquecer que a realidade histórica concreta é feita em boa parte de mentiras bem sucedidas.

In: Manuscrito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário