quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

JESUS NUNCA TEVE MEDO DAS MULTIDÕES

A estrutura psicológica da consciência de um cristão católico encontra-se profundamente impregnada da convicção de que sua salvação eterna depende, antes de mais nada, da sua obediência às autoridades da sua Igreja.
           
Durante quase dois mil anos os papas usavam a excomunhão como meio de quebrantar a resistência dos que se opunham a suas ambições de poder. Como arma política a excomunhão e o interdito deixaram de existir. Diminui a olhos vistos o número dos que têm medo de serem expulsos da sua Igreja. Mas nas esferas subliminares da consciência religiosa das massas populares, continua viva e atuante a crença de que a salvação da alma depende do fato de alguém pertencer a uma Igreja. Para grande parte dos católicos estar do lado do papa é o mesmo que estar do lado de Deus. Aplaudir por aplaudir já se está tornando manifestação de fé cristã, desde que o aplaudido se faça passar por enviado de Deus e representante de um poder superior.
           
A Igreja católica ainda está por descobrir que a comunidade, como todo, também é fonte de poder. Ela é uma das poucas instituições do mundo civilizado que ainda não encontrou em seu seio formas democráticas de governo. Nela tudo continua sendo imposto e decidido de cima para baixo.
           
Transformar em povo livre uma multidão habituada à “segurança” do cabresto e da “gaiola” é tarefa para gerações de estadistas e de profetas. O futuro da humanidade vai depender do grau de liberdade dos que terão a tarefa de arcar com ele.
           
Lenin cometeu o erro de achar que uma “aristocracia de intelectuais” bastaria para transformar a Rússia Zarista num Paraíso Socialista.
           
Nos anos 60 a Igreja católica cometeu o mesmo erro, achando que uma Assembleia de bispos tinha condições de traçar o futuro de uma Igreja renovada e universalmente aceita por todos os homens de “boa vontade”.
           
Ainda estamos por descobrir o lugar e o papel que Cristo reservou ao povo, isto é, à multidão de excluídos, marginalizados, excomungados, que nunca tiveram a oportunidade de professar a sua fé em Cristo a não ser batendo palmas à passagem de seus senhores.
           
Durante séculos prevaleceu a tese segundo a qual é inimigo da fé cristã todo aquele que é amigo da liberdade. Que é inimigo da Igreja quem se coloca do lado do povo.

A Teologia da Libertação foi condenada pelo Vaticano porque elevou o povo, seus anseios e sofrimentos, à condição de sujeito da História da Salvação. Os que sentem mais de perto as consequências da exploração do homem pelo homem são os interlocutores preferidos de Cristo.
           
Jesus nunca teve medo das multidões. Nunca se serviu de guarda-costas para se defender de eventuais abusos. O atual Papa gostaria de transmitir à opinião pública a imagem de homem do povo. Acontece que entre ele e o povo estão estacionados milhares de agentes de segurança. Jesus nunca pôde contar com tamanho aparato de segurança. Se o Papa fosse realmente o homem do povo que gostaria de ser, dispensaria toda e qualquer espécie de segurança que não fosse a segurança que um pai encontra no meio de seus filhos.

Padre Marcos Bach

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