terça-feira, 23 de setembro de 2014

AVANÇO EM DIREÇÃO À COMUNIDADE ECLESIAL

A Fé nos revela o que podemos admitir como verdadeiro e certo. A Caridade nos assegura que podemos contar sempre e em tudo com o amor benevolente de Cristo. A Esperança nos leva a olhar para o futuro, fixando nossa Fé em tudo aquilo que ainda nos falta para atingir a Plenitude Total, o Pleroma do apóstolo Paulo. A Esperança nos diz que o Essencial do Projeto Messiânico de Jesus ainda está por acontecer.

O cristão tradicionalista e de mentalidade conservadora associa a sua fé a fatos do passado histórico da vida de Cristo.

O cristão verdadeiramente merecedor deste título sabe que o cristianismo autêntico é um projeto inacabado que de momento se encontra ainda em fase inaugural. Retira do passado e da tradição aquilo que pode ser integrado em sua esperança e esquece tranquilamente tudo o que não se encaixa em sua esperança. O saudosismo não é uma virtude cristã! A saudade que atormenta o espírito de um cristão é a saudade do céu. No céu cristão não se entra voltando para trás e recuando no tempo. O habitante do céu cristão não é mais um crente, mas um visionário, pois a verdade não chega mais a ele sob a forma de dogmas, mas sob a forma visionária da Visão Beatífica.

Quem quer se preparar para esta nova forma de vida tem que começar a praticá-la já aqui e agora! Existe uma forma de conhecimento ao qual se chega através da contemplação que, em certa medida, embora modesta, representa uma antecipação da Visão Beatífica: é o conhecimento intuitivo!

O contemplativo, assim como o feliz habitante do céu, é alguém que desobstruiu o canal que liga o consciente com o Supraconsciente! Em lugar do cristão tradicional que busca a verdade em dogmas e doutrinas, o cristão do futuro alimenta a sua Fé em Cristo com conhecimentos que lhe são comunicados pelo seu Supraconsciente.

A verdade que nos liberta não é aquela que construímos somando verdades parciais, mas sintetizando numa única Verdade Fundamental a todas elas. E esta Verdade Básica é a seguinte: nosso futuro pessoal, como o da humanidade toda, interessa e preocupa a Deus muito mais do que a nós! Queremos melhorar o mundo que nos cerca, mas não nos interessamos muito pelo mundo que nos aguarda, oculto por ora nas sombras do imprevisível.

O cristão politicamente engajado compartilha com Marx e os marxistas a crença de que as pessoas são e serão sempre o que a sociedade tiver feito delas.

Cristo não veio com a intenção de mudar a sociedade em que vive! O dogma fundamental do cristianismo fiel a Cristo é o seguinte: a sociedade será sempre o que são as pessoas que a constituem! Uma sociedade livre só se constrói com pessoas livres. Cem mendigos não fazem um rico. O verdadeiramente rico não é aquele que tem mais, mas aquele que precisa menos!

Bom navegante na época do barco à vela era aquele que sabia aproveitar bem o vento de que dispunha! Mesmo com pouco vento é possível avançar e progredir!

A Sociedade com que Marx sonhou é comparável a um barco movido a motor. O Estado se encarrega de promover o progresso do corpo social todo através do recurso ao planejamento.

Uma Comunidade é um organismo social que funciona de forma espontânea. Não se pode submetê-la a um planejamento meticuloso sem comprometer aspectos essenciais do seu funcionamento correto. Cada fato determina o seguinte. A regra deixa de ter a importância que tinha no contexto de um corpo social submetido a exigências previamente estabelecidas.

Uma Comunidade que é Eclesial, quer dizer, que não é uma simples Pia Associação ou uma espécie de Confraria ou Terceira Ordem, é uma Igreja! Mais exato seria dizer que ela é a Igreja em Miniatura! De acordo com a concepção holográfica o universo não consta de partes que se juntam, mas é um Todo (Holos, em grego) que, ao desdobrar-se, continua presente em cada parte. Uma partícula não é um fragmento do Todo, mas é uma reprodução deste Todo em escala menor!

Uma eclesialidade não possui cunho confessional. A grande Mãe Igreja abrange muito mais do que o pequeno punhado de Igrejas confessionais, pois inclui em seu Corpo Místico todos aqueles que o teólogo jesuíta Karl Rahner define como “cristãos anônimos” (aconfessionais e intereclesiais). Esta aposta representa, antes de mais nada, um ato de fé na humanidade e no que de mais humano cada pessoa traz em seu íntimo. Esta fé se traduz num voto de absoluta confiança em relação aos demais membros da nossa Comunidade.

O Amor que nos une é de natureza visionária e transpessoal. Nossa amizade se baseia não em atributos já existentes, mas no que nela se encontra adormecido e em estado germinal. O fator que nos une e nos atrai é a beleza da sua alma. Não nos amamos porque existe um mandamento que nos obriga a amar uns aos outros. Em outras palavras: nosso amor é de natureza estética e extática, pois não nos contentamos em circunscrevê-lo a limites meramente éticos ou jurídicos. Possui a força e o ímpeto inerente a toda a grande paixão. Paira acima das vicissitudes do tempo e dos estragos que a idade costuma fazer numa pessoa com o passar do tempo. É um amor que ressuscita ao que ama e ao que é amado com este amor. Ambos se sentem eleitos pela graça de Cristo a viverem uma Vida Nova, bem diferente daquela que viviam antes. É no terreno do relacionamento amoroso que se encontram os fatores que distinguem a multidão dos chamados, do pequeno punhado dos eleitos!

O apóstolo Paulo chama de eleitos os membros das Comunidades Cristãs por ele fundadas! Na visão Eclesial de Paulo uma Comunidade Cristã nasce da Ação do Espírito Santo, sendo a pregação apenas um elemento secundário.

Quem abraçou a Fé em Cristo já está salvo! Os eleitos que formam a Comunidade Cristã não são pessoas que ainda andam à procura da salvação, mas são pessoas que já a encontraram. Unidos a Cristo e em Cristo formam um poderosíssimo centro de atração e de irradiação energética, dedicados à missão de impregnar as estruturas sociais do ambiente em que atuam com o Amor de Cristo. Só poderão desempenhar esta missão a contento de modo satisfatório se aprenderem a se amar uns aos outros como Cristo os ama! Com este amor no coração um cristão se torna simplesmente imbatível e pode enfrentar as estruturas do crime organizado pelos poderosos com a tranquila certeza de que se encontra do lado Vencedor da Vida!

Padre Marcos Bach

Um comentário:

  1. Celia, que lindo texto. Como o Pe. Marcos estava beeeem a frente de sua época. A ideia de que de que os que creem já alcançaram a Salvação ainda até hoje não é aceita por muitos. Infelizmente nossa mentalidade e nossa catequese ainda é meritocrática. Fazer o bem simplesmente na gratuidade, sem fazê-lo para alcançar algo, no caso a Salvação, é uma ideia escandalosa em tempos que vivemos no "toma lá, dá cá". Obrigada por compartilhar estas pérolas do nosso querido Pe. Marcos. Beijos na fraternura!!

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