sexta-feira, 12 de setembro de 2014

PRESENÇA DO AMOR
           
O que você responderia a alguém que lhe dissesse: “Eu amo a quem quero, porque quero e como quero! Não admito que alguém venha a intrometer-se neste assunto com a intenção de me fazer prescrições”!
           
Quem ama não ganha nada, mas perde tudo o que não é essencial! O amor enriquece a quem ama e ao que é amado! O amor dispensa acréscimos e compensações. Assim como o valor intrínseco do ouro nada tem a ver com a cotação que possui no mercado, do mesmo modo o amor independe da cotação moral ou religiosa.
                       
Tem toda a razão o físico David Bohm quando constata que tanto a evolução da vida como a revolução dos corpos celestes é, antes de mais nada, uma complexa e poderosa manifestação de amor!
                       
O que a muitos se parece com distância, a outros se apresenta como fosso intransponível. Um deles era o filósofo francês Charles Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente impossível reatar a ligação do presente com o passado!
           
O que é mais importante: saber como nossos antepassados enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter alguma resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas no bojo de um futuro aparentemente imprevisível.
           
O passado é pobre em lições verdadeiramente significativas!         É o futuro que devemos interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade e das intenções de Deus!
           
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado, presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
           
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos. Não é correto comparar o fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo com o que acontece no interior de uma semente em trabalhos de parto!

Um modo de “andar à toa na vida” é pôr-se à procura do lugar onde Deus se encontra e onde é possível encontrar-se com Ele. Perde seu precioso tempo quem for procurá-lo em Roma, Meca ou Jerusalém. Sairá de lá frustrado quem o foi procurar no centro de uma galáxia. Nem o interior de um buraco negro é espaço indicado para quem procura um lugar onde morar. Moradia boa é um lugar onde ir e vir é permitido sem a menor restrição.
           
A Casa do Pai, lugar onde Deus mora de acordo com a palavra de Jesus, só pode ser um espaço em que o trânsito não obedece à regra alguma. Há espaços que prendem e há espaços que convidam a voar. Não se deixar prender a lugar algum é nisto que consiste a essência da “Liberdade dos Filhos de Deus”!

Não ter mais obrigação alguma é nisto que consiste a plena Liberdade de Deus. Toda lei que gera obrigação é inimiga da liberdade humana, a qual, por sua vez, é reflexo da liberdade divina do Criador. Dispensar a lei e não necessitar mais dela é o ponto alto em que a liberdade do homem mais se aproxima da liberdade de Deus.
           
É um erro lamentável equiparar e identificar entre si responsabilidade moral e obrigação. O mais responsável dos membros de uma comunidade humana não é aquele que se cercou da mais compacta teia de obrigações.

A “Liberdade dos Filhos de Deus” é um convite e não uma lei no sentido jurídicomoral do termo.

O apóstolo Paulo, que mais se interessou por este aspecto dos ensinamentos de Jesus, propõe aos fiéis de sua Comunidade que tomem como modelo éticoespiritual não mais a lei, mas a liberdade de Deus. Para Paulo ser tão livre como Deus é o objetivo último de toda a Ética Cristã. Para o Apóstolo das Gentes só há um meio de ter uma ideia aproximada da liberdade de Deus. Este meio é a vida de Jesus.

Jesus não veio trazendo em sua bagagem novas formas de arrocho social. Não só não sancionou as que já existiam, mas as anulou a todas. “Depois que tiverdes feito tudo o que é da vossa obrigação, dizei: somos servos inúteis” (Lc 17,10).
           
A passagem da “Ordem da Lei” para a “Orto Charitatis et Libertatis” preconizada por Cristo e que o apóstolo Paulo elevou à condição de “Leitmotiv central” de sua pregação, apenas se encontra em sua fase inicial. Dois mil anos de cristianismo não foram suficientes para romper a barreira que os “Doutores da Lei” armaram para impedir que ela passe da periferia para o centro. Este passo teria que coincidir necessariamente em Declaração dos Direitos Fundamentais da pessoa humana em substituição aos atuais Códigos de Direito. Enquanto a liberdade humana for apenas tolerada como se tolera um mal necessário, vamos continuar a nos ver envolvidos nas mais diversas formas de violência institucionalizada.

Padre Marcos Bach

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