quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CIÊNCIA MÍSTICA

Ciência mística é o campo do conhecimento humano que excede a capacidade dos sentidos e da razão. A palavra mística tem a mesma raiz etimológica que a palavra mistério. Faz parte do mistério tudo o que não pode ser apreendido nem pelos sentidos, nem pela razão.
        
A observação científica e a reflexão filosófica só conseguem apanhar e explicar uma parcela bem modesta da realidade do universo.
        
Tendo chegado ao fim da sua vida, Einstein reconheceu que o universo é um grande mistério.
        
Se o universo material se subtrai à compreensão do homem, o que dizer da dimensão espiritual do universo? Se é verdade que “a essência da matéria é espiritual”, como queria Einstein, então é possível que o fracasso dos cientistas nas suas tentativas de explicar a matéria se deva ao fato de não terem incluído em sua metodologia os aspectos espirituais do universo material.
        
Se o universo é um mistério, o que dizer do homem, este microcosmos  infinitamente mais complexo e aberto ao infinito do que a mais poderosa das galáxias?

Do exposto resulta uma pergunta: “Será que não existe um método de investigação capaz de nos levar à compreensão do que talvez com demasiada pressa definimos como mistério”?
        
Einstein atribuiu a uma forma de suas descobertas científicas. Crer significa aceitar como verdadeiro algo que nem a razão, nem os sentidos conseguiram provar.
        
A palavra cientifismo é empregada para denominar a atitude dos que se negam a aceitar como verdadeiro o que não foi provado! O místico não persegue a verdade à procura de provas. Sua visão da realidade se contenta com rastear pistas.
        
A distância que separa o teólogo do místico é brutal! O teólogo quer apanhar Deus na rede dos seus raciocínios! O místico se contenta com saborear o aroma que permanece no ar depois que Deus passou!
        
Um místico e um teólogo não falam a mesma língua. Assim como a linguagem do nariz não é a mesma dos olhos. Ambos os sentidos fornecem, no entanto, ao homem a mesma mensagem estética.
        
O Deus de Teilhard é o mesmo de Karl Rahner. Só que o de Teilhard tem “cheiro de terra” e o de Rahner carece de “cheiro”.
        
Durante séculos teólogos e cientistas faziam questão de sublinhar a pretensa incompatibilidade entre Ciência e Fé. Nos últimos cem anos foram dados passos gigantescos no sentido de pôr fim a esta guerra inglória.
        
Quando dizemos que o cristão não se apega a regras e que não necessita de outro poder além daquele que sua fé em Cristo lhe proporciona, estamos mexendo em “vespeiro”, pois é inútil ir à procura de uma religião que dispensa seus fiéis de alguma forma de obediência. E de alguma forma de disciplina imposta.

O místico é alguém que adquiriu grande familiaridade com os planos superiores da sua consciência. Com o seu Self, diria Jung. Com a sua consciência espiritual, diria Assagioli.
        
Os conhecimentos que o Supraconsciente lhe fornece não são iguais aos que sua razão e seus sentidos lhe proporcionam, pois são de natureza intuitiva. Por intuição se entende uma espécie de conhecimento em que o sujeito entra em contato direto e imediato com a verdade, a qual se lhe revela sem o concurso de intermediários.
        
O conhecimento místico é essencialmente visionário. É por isto que os místicos preferem servir-se de imagens e de símbolos, de comparações e de extrapolações e hipérboles para descrever suas experiências. O falso místico se apega às imagens como se elas fossem a verdade, assim como o mau teólogo se prende a dogmas e o mau cientista se escraviza a uma visão teórica da realidade.
        
O que caracteriza a mente visionária de um místico é sua extraordinária abertura mental e elasticidade intelectual e moral. Um místico sempre está disposto a aceitar mudanças, caso elas se imponham.
        
A teologia mística é essencialmente negativa: não descreve Deus, mas dá apenas o que deve ser excluído da sua Imagem.
        
Um místico autêntico, como São João da Cruz, sabe distinguir muito bem o que é de Deus e o que faz parte da tentativa humana de se apoderar de Deus. E de usar uma imagem sua com o fito de tirar proveito da sua familiaridade com Deus. O que se dá neste caso é que alguém se ajoelha diante de uma “imagem” que ele mesmo criou, em lugar de se ajoelhar perante Deus.
                  
Deus não cabe em ícones, em imagens e conceitos teológicos. Menos ainda em dispositivos canônicos!
        
Motivo de sofrimento é para um místico sentir-se condenado a viver num mundo que além de não ser o seu, é em tudo o oposto do seu.

O instrumento de pesquisa preferido do místico é a !
        
Einstein já admitiu que o melhor das suas descobertas científicas devia-o à fé e não à pesquisa propriamente dita. Como cientista sabia que “quem não procura, não acha”! Como “religioso” ele sabia que não basta procurar, que é preciso procurar no lugar certo, com os meios certos e no tempo certo! Tudo isto ultrapassa a racionalidade do esforço científico e lhe acrescenta algo de essencial.
        
A atitude de fé se baseia na certeza de que o universo tem um sentido e que a história da humanidade obedece a um plano. Sem esta fé é inútil tentar compreender o homem e o mundo em que vive.
        
A inglória luta entre fé e ciência está com os dias contados. Não fosse a quantidade de interesses e vaidades investida nesta luta, ciência e fé já teriam realizado, há muito, o “matrimônio sagrado”, o “Hierós Gamós” dos alquimistas. Decretar a separação entre fé e ciência é o mesmo que condenar tanto o homem de fé como o cientista a viver divorciado de si mesmo. Há aspectos da verdade humana que só a fé nos pode revelar! Mas há outros aspectos da verdade que só a ciência consegue desvendar.
        
A fé não supre a razão. Sobrepõe-se a ela e lhe dá “asas”. Asas mais poderosas que a capacitam a voar mais alto.
        
A fé de que falo não é a fé teológica que se baseia em “verdades reveladas” e pode ser controlada por autoridades eclesiásticas. Não é sobrenatural, pois embora venha do “Alto”, não representa um dom acrescentado à capacidade natural da consciência humana. O sobrenatural pressupõe a existência de uma base natural.
        
A experiência mística é um ato de fé na sabedoria do universo material e na natureza antes de ser um ato de fé sobrenatural. Sem esta fé natural a fé sobrenatural apoiada em “verdades reveladas” e na Palavra de Deus carece de apoio que toda planta encontra em suas raízes.

Padre Marcos Bach

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