segunda-feira, 20 de outubro de 2014

NÃO HÁ PERDAS A LAMENTAR

Durante milhares de anos os estudiosos da coisa do céu e da terra eram poucos. Vendo que as estrelas do céu pareciam não sair nunca do lugar, deram ao céu o nome de firmamento.

O caráter vibrante e pulsátil do universo só foi descoberto pelo físico alemão Max Planck no início do século XX. Tanto como a luz, o átomo também vibra e pulsa, pois se dilata e se contrai milhões de vezes a cada segundo.

Não sou cientista, mas a minha condição de teólogo me leva a fazer a pergunta que Luis de Gonzaga costumava fazer em situações idênticas: “Quid hoc ad aeternitatem?” “O que isto me aproveita para a eternidade?”. Será que os princípios da Teoria Quântica começam a vigorar com força redobrada depois quando nos encontrarmos livres dos laços que nos prenderam ao mundo material?

Se existe uma relação de natureza causal entre tempo e velocidade, então deve de existir a fortiori uma relação causal entre velocidade e eternidade. Einstein ainda era de opinião que a velocidade da luz era a velocidade máxima que uma entidade material podia desenvolver sem se desmaterializar por completo. Hoje já se sabe que à velocidade da luz o tempo deixa de fluir em direção do passado. Ultrapassada a velocidade da luz o tempo inverte a direção e começa a se movimentar do presente em direção ao futuro.

O passado deixa de ser passado e passa a ser parte essencial de um presente eterno. A saudade muda de direção. O que aliena nosso desejo não é aquilo que já tivemos um dia, mas que o tempo se encarrega de levar consigo. Não faz sentido sentir saudade quando tudo o que é desejável ainda está por vir. Tudo o que de bom está à nossa espera se encontra no dia de amanhã. Não há perdas a lamentar, pois tudo o que merece nossa atenção ainda nos espera.

A saudade do saudosista leva-o a lamentar quando a atitude mais inteligente o levaria a se rejubilar. Nada está perdido, tudo se encontra a salvo da ação deletéria do tempo. A salvação eterna consiste em subtrair-se à ação do tempo e viver antecipadamente em clima de eternidade e de perpétuo rejuvenescimento.

“Não vos preocupeis com o dia de amanhã” (Mc 13,11). Pois tudo o que se encontra à vossa frente já está assegurado.

Padre Marcos Bach

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