quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

CADA UM DE NÓS REPRESENTA A HUMANIDADE TODA

A norma é um instrumento destinado a influenciar a História da espécie humana no sentido do cada vez mais humano. O que está em jogo não é apenas a humanização de indivíduos, em particular. São as estruturas sociais que necessitam de humanização tão bem quanto as pessoas. Mais do que isto: é o Universo todo que está à espera de ser tocado pela mão e pela inteligência do homem.
          
No contexto desta aventura de ordem espiritual e de proporções cósmicas, o indivíduo só se torna sujeito da história na medida em que for representante lídimo da espécie humana.

Cada pessoa humana é representante de uma “espécie em expansão”. A extinção atinge todos os indivíduos e com eles a espécie toda em que a sobrevivência deixa de ter qualquer sentido evolutivo. Em palavras mais simples: desaparecem as espécies biológicas que nada mais são do que fósseis vivos. Trata-se de uma questão de consciência. De consciência histórica, para ser mais exato.
          
Sempre que uma espécie se isola, perdendo deste modo o contato com o Todo Maior do qual é parte, começa a contagem regressiva em direção à extinção e ao desaparecimento. A natureza parece interessar-se mais pelo Todo do que pelas partes. Sacrifica, se for do seu interesse, espécies inteiras. Uma por hora, dizem as estatísticas.
          
Vistas as coisas sob este prisma, cada um de nós representa a humanidade toda. A maneira como cada qual vive a sua vida dirá se somos membros de uma espécie em extinção ou não. A nossa primeira e maior responsabilidade histórica é para com a espécie a que pertencemos e da qual somos representantes.

Há ente nós os que pertencem à mesma espécie de Homo Sapiens que descobriu o fogo. Outros, mais evoluídos, fazem parte da espécie que descobriu a pólvora. Depois deles veio a geração dos que tinham descoberto a máquina a vapor. De lá para cá a humanidade evoluiu partindo da eletricidade para a energia atômica, do telégrafo até a Internet. Usando a sua razão e o potencial criativo da sua inteligência, o Homo Sapiens Sapiens construiu por cima do mundo natural outro mundo, de natureza cultural. Entronizou a razão no comando da História. Subordinou as forças da natureza ao império da razão humana. E da vontade política do homem.
          
O homem deixará de ser daqui para frente o que o ambiente em que vive lhe permite ser. D’ora em diante é ele, o Homo Sapiens Sapiens, que fica com a responsabilidade de moldar a face do planeta em que vive.

Poucos pensadores se deram conta de que o cristianismo representa, acima de tudo, um voto de confiança de Deus no homem. A Fé em Deus, no Deus-Pai de Cristo é, antes de mais nada, um voto de confiança no Homem.

Este Homem depositário da nossa Fé Incondicional não é o proverbial “representante de Deus na terra”. O futuro da humanidade não depende de homens “cercados de privilégios e donos de poder”. A espécie não fala. Quem fala em seu nome são indivíduos. Mas quais são os indivíduos que podem falar em nome da espécie humana toda? 
          
Houve tempo em que os sábios e os poderosos, e só eles, tinham esta autorização. Estamos todos cansados de ver o estado lastimável a que reduziram a face deste nosso planeta. Não é de mais saber e de mais poder que vamos precisar daqui para frente.

Já ficou claro aos que têm tempo para pensar no assunto que só uma guinada radical no rumo da nossa cultura nos pode salvar. Esta guinada implica a necessidade de esquecer e desaprender quase tudo o que nos foi (e continua sendo) ensinado na Escola e na Igreja. Envolve a necessidade de aposentar valores consagrados. E tudo isso tem que ser feito em ritmo acelerado. Já perdemos tempo demais confiando em mecanismos de segurança tidos como a última palavra em matéria de organização racional.

Os que depositaram seu desejo de salvação em sistemas religiosos esbarram por toda a parte nas muralhas pretensamente inexpugnáveis de uma Fé de porte fundamentalista. Não conheço religião em que a preocupação pelo futuro da humanidade toda tenha conseguido prevalecer sobre o temor tipicamente paranoico de aventurar-se em “mares nunca d’antes navegados”.
          
O papa atual está empenhado em fazer da Igreja católica plataforma de lançamento de uma nova época da História humana.
          
É um novo modelo de ordem social que se está tornando cada vez mais necessário. Onde uns poucos comandam e aos demais só resta obedecer, encontramo-nos frente a frente com a maior tranqueira do progresso social. Infelizmente não há religião em que não seja este o princípio inspirador do que depois se define como “ordem inspirada por Deus”. 
          
A juventude atual representa o típico candidato a Homo Sapiens Sapiens Sapiens. Não aceita instituições sociais em cujo seio não lhe é permitido desdobrar suas potencialidades pessoais. Não aceita uma sociedade que não permite aos indivíduos serem mais evoluídos do que a maioria dos membros ou do que a elite dominante.

Ser mais evoluído significa duas coisas: ser cada vez menos dependente de líderes e de chefes; e de ser sempre mais capaz de responder por si mesmo.

Padre Marcos Bach

Nenhum comentário:

Postar um comentário