quarta-feira, 11 de março de 2015

FUNÇÃO INTEGRADORA DA CONSCIÊNCIA

A função integradora da consciência é de natureza psicossocial. A consciência une em um todo orgânico a imensa variedade de manifestações da psique humana. Ela tem o poder de criar no interior da pessoa a unidade intencional da qual nasce a unidade da ação coerente, assim como a coesão interna da comunidade. É por este caminho que se dá a passagem do indivíduo para o social.

Integrar é mais que somar e ajustar. À palavra integração corresponde uma tarefa bem mais complexa do que produzir simples estados de equilíbrio e ajuste. A eliminação de possíveis atritos e conflitos no terreno psicossocial não é suficiente para que possa haver chance de desenvolvimento e progresso. É preciso encontrar um modo de harmonizar entre si pulsões contraditórias e antagônicas, sem comprometer a sua vitalidade “selvagem” e impetuosa. Como canalizar a energia das pulsões “inferiores” para tarefas e funções de ordem “superior”, esta é a questão. E é este o desafio a que a consciência, e só ela, tem condições de dar uma resposta plenamente satisfatória.

Como sintetizar a multiplicidade de funções sociais numa síntese mais perfeita sem comprometer a liberdade individual em aspectos essenciais?

Como transformar em unanimidade mil pequenas vontades dispersas?

Como unir numa síntese harmoniosa a gama multiforme de pequenos interesses conflitantes?

É tarefa das consciências descobrir o modo de consegui-lo. Não podemos entupir simplesmente a fonte do mal, sem destruir e secar ao mesmo tempo a fonte donde emana o bem. Cercear a liberdade de um cidadão, com o fim de evitar o abuso, é o mesmo que restringir o seu uso. É como cortar a laranjeira, porque, ao lado de inúmeros frutos saborosos, produz também uma quantidade de laranjas azedas.

A possibilidade do abuso existe sempre onde há liberdade. Só não ocorre onde a liberdade deixou de existir. Não há “ordem” mais perfeita do que a de um “cemitério”.

No plano subjetivo a integração é talvez ainda mais difícil e trabalhosa do que no campo social. Pôr ordem na própria casa é, no entanto, condição preliminar, “sine qua non”, para a construção do edifício social.

Padre Marcos Bach

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