quarta-feira, 14 de outubro de 2015


O REFLEXO DE VERDADES ETERNAS

“Vinde a mim vós todos que andais sobrecarregados e oprimidos por fardos insuportáveis que Eu vos aliviarei. Pois o meu fardo é leve e suave o meu jugo” (Mt 11,30).

Inimigo fidagal da liberdade cristã é o fariseu que ata fardos e os coloca no ombro de outros (Mt 23,4). O apóstolo Paulo foi taxativo: “Cada um levará o seu próprio fardo” (Gl 6,5). O fardo que a fé em Cristo representa é tão leve e gratificante que cristão algum pensa em reparti-lo com outros.

Jesus carregou a sua cruz sozinho até o extremo limite de suas forças.

Para os planejadores dos programas espaciais foi uma surpresa constatar que o homem consegue adaptar-se a um ambiente sem gravidade. Assim como tantos outros membros da biosfera, o homem não foi feito para viver em cativeiro. Sua relação com o planeta Terra não é a mesma que prende o condenado a uma prisão.

Estamos aqui neste modesto planetinha para aprender a caminhar. É de momento ainda pequena a nossa capacidade de correr! Ainda nos divertimos assistindo corridas de cavalos e de automóveis. De momento nos interessam velocidades de natureza material. A velocidade da luz era vista por Einstein como barreira intransponível e como limite máximo de velocidade de natureza material. Mas esta já não é mais uma crença tão tranquila como nos tempos de Einstein. É que nossa noção de tempo não é mais a mesma de cinquenta anos atrás.

A velocidade, como o movimento, é um fenômeno que também ocorre nos fenômenos de natureza energético-espiritual. O pensamento possui também sua velocidade. Platão acreditava na existência de um universo de ideias-modelo fixas, perfeitas e imutáveis. Só elas são verdadeiras. O pensamento humano nada mais é do que o reflexo de verdades eternas e imutáveis, assim como a sombra do viandante que passa diante dela é refletida no fundo de uma caverna.

O mundo real não é assim como o vemos e como o retratamos em pensamento. Os pensadores da antiga Índia chamavam de maya, de aparente, o universo que nossa mente e sentidos nos revelam. O mundo real foge da nossa capacidade de percepção. A palavra mundus tem significado duplo: significa a porção de realidades que classificamos como materiais, mas pode significar também puro. Puro e não conspurcado era no pensamento grego o “conhecimento em si”.

Ainda hoje chamamos de ciência pura todo o conhecimento que não visa outro fim que não o do próprio conhecimento em si. Quem ainda se inscreveria num curso de Filosofia Pura caso existisse um por ai? O oposto do pensamento puro é o pensamento útil, o conhecimento que pode ser usado como meio para alcançar outros objetivos. Quem de nós se dispõe a adquirir conhecimentos que não podem ser vendidos no mercado de trabalho e trocados por dinheiro?

Dividimos o conhecimento em acadêmico e profissional. Profissional é o conhecimento útil e que serve para alguma coisa, como ganhar dinheiro. Acadêmico é o conhecimento que bem se poderia classificar como meramente decorativo. Damos o nome de erudito a quem possui muitos conhecimentos. O erudito sabe de tudo um pouco. A palavra cultura e o termo pessoa culta exprimem duas posturas diferentes: o cultivo do conhecimento através do estudo, da pesquisa e do aprendizado e o culto do saber que é transformado em sabedoria de vida e fonte de prazer estético-religioso.

Foi de Einstein a ideia de fazer distinção entre conhecimento e informação. Conhecimento, sensu stricto, é, segundo Einstein, todo o saber que nasce da experiência e vem acompanhado de um toque pessoal. O resto é informação, diz ele.

Há filósofos que fazem distinção entre inteligência e razão. Razão, segundo eles, é inteligência mais sentimento.

Muita gente se alarma hoje com a perspectiva de aparecerem no mercado artefatos tecnológicos mais inteligentes que o homem. De momento não existe a menor ameaça à superioridade do animal racional que é o homem. No dia em que uma equipe de robôs estiver próxima de criar um ser inteligente tão imprevisível quanto o homem em seu estágio evolutivo atual, aí sim, a humanidade corre o risco de se ver sobrepujada por outra raça mais inteligente!

Será que é possível encontrar sobre a face deste nosso planeta outro ser capaz de cometer tantos erros e de semear, por onde passa, tantos estragos e tantos problemas?

Nossos técnicos criaram o computador porque queriam um aliado que contribuísse para melhorar o desempenho da sua inteligência e da memória em especial. O computador não é um sujeito cujo comportamento não se pode prever. Basta a mão de um moleque para pô-lo fora de serviço. Podemos confiar a um sistema cibernético (computador, robô ou piloto automático) muitas tarefas de natureza funcional, mas seria bobagem esperar que eles possam substituir-nos na tarefa de conferir qualidade humana a nossas vidas. O que se passa no interior das consciências não cabe na memória de um computador.

Padre Marcos Bach

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