O REFLEXO DE VERDADES ETERNAS
“Vinde a mim vós todos que andais sobrecarregados e
oprimidos por fardos insuportáveis que Eu vos aliviarei. Pois o meu fardo é
leve e suave o meu jugo” (Mt 11,30).
Inimigo fidagal da liberdade cristã é o fariseu que ata fardos
e os coloca no ombro de outros (Mt 23,4). O apóstolo Paulo foi taxativo: “Cada
um levará o seu próprio fardo” (Gl 6,5). O fardo que a fé em Cristo representa
é tão leve e gratificante que cristão algum pensa em reparti-lo com outros.
Jesus carregou a sua cruz sozinho até o extremo limite de
suas forças.
Para os planejadores dos programas espaciais foi uma
surpresa constatar que o homem consegue adaptar-se a um ambiente sem gravidade.
Assim como tantos outros membros da biosfera, o homem não foi feito para viver
em cativeiro. Sua relação com o planeta Terra não é a mesma que prende o
condenado a uma prisão.
Estamos aqui neste modesto planetinha para aprender a
caminhar. É de momento ainda pequena a nossa capacidade de correr! Ainda nos
divertimos assistindo corridas de cavalos e de automóveis. De momento nos
interessam velocidades de natureza material. A velocidade da luz era vista por
Einstein como barreira intransponível e como limite máximo de velocidade de
natureza material. Mas esta já não é mais uma crença tão tranquila como nos
tempos de Einstein. É que nossa noção de tempo não é mais a mesma de cinquenta
anos atrás.
A velocidade, como o movimento, é um fenômeno que também
ocorre nos fenômenos de natureza energético-espiritual. O pensamento possui
também sua velocidade. Platão acreditava na existência de um universo de
ideias-modelo fixas, perfeitas e imutáveis. Só elas são verdadeiras. O
pensamento humano nada mais é do que o reflexo de verdades eternas e imutáveis,
assim como a sombra do viandante que passa diante dela é refletida no fundo de
uma caverna.
O mundo real não é assim como o vemos e como o retratamos
em pensamento. Os pensadores da antiga Índia chamavam de maya, de aparente, o universo que nossa mente e sentidos nos
revelam. O mundo real foge da nossa capacidade de percepção. A palavra mundus tem significado duplo: significa
a porção de realidades que classificamos como materiais, mas pode significar
também puro. Puro e não conspurcado era no pensamento grego o “conhecimento em
si”.
Ainda hoje chamamos de ciência pura todo o conhecimento que
não visa outro fim que não o do próprio conhecimento em si. Quem ainda se
inscreveria num curso de Filosofia Pura caso existisse um por ai? O oposto do
pensamento puro é o pensamento útil, o conhecimento que pode ser usado como
meio para alcançar outros objetivos. Quem de nós se dispõe a adquirir
conhecimentos que não podem ser vendidos no mercado de trabalho e trocados por dinheiro?
Dividimos o conhecimento em acadêmico e profissional.
Profissional é o conhecimento útil e que serve para alguma coisa, como ganhar
dinheiro. Acadêmico é o conhecimento que bem se poderia classificar como
meramente decorativo. Damos o nome de erudito a quem possui muitos
conhecimentos. O erudito sabe de tudo um pouco. A palavra cultura e o termo
pessoa culta exprimem duas posturas diferentes: o cultivo do conhecimento
através do estudo, da pesquisa e do aprendizado e o culto do saber que é transformado
em sabedoria de vida e fonte de prazer estético-religioso.
Foi de Einstein a ideia de fazer distinção entre
conhecimento e informação. Conhecimento, sensu
stricto, é, segundo Einstein, todo o saber que nasce da experiência e vem
acompanhado de um toque pessoal. O resto é informação, diz ele.
Há filósofos que fazem distinção entre inteligência e
razão. Razão, segundo eles, é inteligência mais sentimento.
Muita gente se alarma hoje com a perspectiva de aparecerem
no mercado artefatos tecnológicos mais inteligentes que o homem. De momento não
existe a menor ameaça à superioridade do animal racional que é o homem. No dia
em que uma equipe de robôs estiver próxima de criar um ser inteligente tão
imprevisível quanto o homem em seu estágio evolutivo atual, aí sim, a
humanidade corre o risco de se ver sobrepujada por outra raça mais inteligente!
Será que é possível encontrar sobre a face deste nosso
planeta outro ser capaz de cometer tantos erros e de semear, por onde passa,
tantos estragos e tantos problemas?
Nossos técnicos criaram o computador porque queriam um
aliado que contribuísse para melhorar o desempenho da sua inteligência e da
memória em especial. O computador não é um sujeito cujo comportamento não se
pode prever. Basta a mão de um moleque para pô-lo fora de serviço. Podemos
confiar a um sistema cibernético (computador, robô ou piloto automático) muitas
tarefas de natureza funcional, mas seria bobagem esperar que eles possam
substituir-nos na tarefa de conferir qualidade humana a nossas vidas. O que se
passa no interior das consciências não cabe na memória de um computador.
Padre Marcos Bach
Nenhum comentário:
Postar um comentário